"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 30, 2014

ENQUANTO ISSO COM A COMPETENTA MAIS PREPARADA DO CACHACEIRO ABJETO. O BRASIL REAL VAI DE MAL A PIOR : NO SEMESTRE O PIOR SUPERAVIT DESDE 2000. NA CNI A DESAVERGONHADA DISSE QUE ESTÁ TUDO BEM.



O governo central (formado pelas contas do Tesouro, do Banco Central e da Previdência Social) registrou déficit primário de 1,95 bilhão de reais em junho, o pior resultado para junho desde o início da série histórica, informou o Tesouro Nacional nesta quarta-feira. Nos seis primeiros meses do ano, a economia feita para o pagamento de juros acumula saldo positivo de 17,24 bilhões de reais, metade do valor visto em igual período do ano passado e também o pior resultado para o período desde o ano 2000.

O resultado fiscal é a diferença entre os gastos e receitas do governo central. Quando as receitas superam as despesas, há o superávit primário, usado para arcar com os juros da dívida. Contudo, esse é o segundo mês consecutivo em que as contas ficam no vermelho. A deterioração das contas públicas tem sido motivo de apreensão tanto no governo quanto para investidores. O resultado de 2014 é, inclusive, pior do que o verificado em 2008 e 2009, anos de crise, em que a arrecadação foi penalizada e o governo teve de financiar políticas anticíclicas para amenizar os efeitos da crise financeira internacional.

O resultado negativo foi impactado, sobretudo, pelo resultado da Previdência Social, que apresentou, no mês passado, déficit de 4,508 bilhões de reais — alta de 16,2% em relação a maio. O impacto positivo foi o recebimento de 1,48 bilhão de reais em dividendos de estatais, muito acima dos 780 milhões de reais vistos em maio.

Em junho, as receitas líquidas do governo central somaram 78,46 bilhões de reais, quase 15% a mais frente a maio. No acumulado do semestre, somam 491,2 bilhões de reais, o que representa alta de 6,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Já as despesas somaram 80,41 bilhões de reais em junho, com alta de 2% em comparação ao mês anterior. Nos seis primeiros meses do ano, elas somam 473,96 bilhões de reais, alta de 10,6% em relação ao ano passado.

O resultado ruim mostra que as contas públicas seguem influenciadas pela economia fraca, o que tem levado o governo a recorrer às receitas extraordinárias para tentar fechar suas contas. Neste ano, a projeção é de que elas somarão 31,6 bilhões de reais. Também têm pesado as fortes desonerações tributárias que, no semestre passado, somaram cerca de 51 bilhões de reais, quase 45% a mais do que em igual período de 2013.

Em 2014, a meta de superávit primário do setor público consolidado (a soma das contas do governo central, Estados, municípios e estatais) é de 99 bilhões de reais, o equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB).

Veja.com

SANTANDER : ¡Que venga el toro!

Antes de tudo, um alerta: 
para quem não sabe, fui economista-chefe do Santander entre 2008 e 2011, demitido após discussão pública com o então presidente da Petrobras. Digo isso porque quero hoje tratar do imbróglio que envolveu o banco na semana passada, quando foi publicada análise relacionando o desempenho da presidente nas pesquisas eleitorais ao comportamento da Bolsa, do dólar e de outros ativos.

A análise nada trouxe de controverso. 
Aqui mesmo na Folha, no dia 19, lia-se na página B3: "Bolsa chega ao maior nível em 16 meses", notando que "as ações de empresas estatais dispararam na BM&FBovespa e impulsionaram o principal índice da Bolsa brasileira nesta sexta-feira (18), após pesquisa Datafolha ter apresentado empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB)". Acrescentou ainda que, "desde que começaram a ser divulgadas pesquisas apontando perda de espaço da presidente (...), o mercado de ações nacional, que caía e acentuava queda (...), mudou de tendência".

O governo e o partido podem não concordar com a avaliação do mercado, mas, conforme descrito pelo jornal, trata-se de um fato: para bem ou para mal, a percepção é que uma mudança de orientação de política econômica terá efeitos positivos sobre as empresas brasileiras, em particular as sujeitas a controle acionário governamental.

E é bom notar que o tal mercado pode ter as preferências ideológicas que quiser, mas, na hora de comprar ou vender uma ação, o que menos interessa é ideologia; é sempre a perspectiva de lucro que move esses agentes. Posto de outra forma, ninguém rasga dinheiro em nome de suas convicções políticas.

O texto do banco, enviado a correntistas com renda mensal superior a R$ 10 mil, supostamente mais propensos a operar no mercado financeiro, nada mais fez do que compartilhar esses fatos, e por um motivo muito claro. Bancos têm um dever fiduciário com seus clientes: não podem omitir ou distorcer informações relevantes para sua tomada de decisão.

Em particular, a opinião das áreas de pesquisa deve refletir exatamente esse tipo de preocupação. Analistas não estão certos o tempo todo, mas é claro que suas conclusões não devem ser guiadas pelos interesses da instituição financeira. Não por acaso as regras buscam (nem sempre com sucesso, diga-se) isolar a pesquisa econômica das posições próprias do banco e mesmo de áreas que gerenciam as aplicações de clientes (fundos de investimento), precaução devidamente apelidada de "muralha da China".

Nesse sentido, a decisão de demitir os analistas que expuseram, mais que uma opinião, um fato representa uma violação desse procedimento. A alegação de que a análise conteria "viés político ou partidário" não se sustenta diante da própria diretriz interna que "estabelece que toda e qualquer análise econômica enviada aos clientes restrinja-se à discussão de variáveis que possam afetar a vida financeira dos correntistas". Não há, como se viu, a menor dúvida de que as perspectivas acerca da eleição presidencial são mais que relevantes para afetar a vida financeira dos clientes.

A consequência desse comportamento é óbvia 
(e aqui falo em termos gerais, não do banco em si).

Se a autonomia da pesquisa é ameaçada, a credibilidade da análise fica comprometida, a despeito das qualidades do analista. Quem, de agora em diante, pode confiar em relatórios se não sabemos a que tipo de filtros estes se encontram sujeitos?

O maior perdedor é o debate econômico, ainda mais numa conjuntura em que –em face de desafios nada triviais no futuro próximo– ninguém se aventura a discutir a sério o que precisa ser feito para colocar a economia brasileira de volta nos eixos. Se até o óbvio, amplamente noticiado (ainda bem!) pela imprensa, vira objeto de censura, pouco falta para que fujamos da controvérsia como quem tem um miúra nos calcanhares.
Alexandre Schwartsman
Folha

ENQUANTO ISSO NO brasil maravilha DOS VELHACOS E COMPETENTA 1,99 MAIS PREPARADA... Política de subsídios não rende benefícios esperados


Um país com dimensões continentais, com um agronegócio em franca ascensão, precisa de fato dar mais atenção à aviação regional. Para isso, são necessários investimentos na infraestrutura aeroportuária e estímulos para que companhias aéreas constituam frotas apropriadas ao atendimento das rotas que aproximem a cidades do interior dos grandes centros.

O governo federal acaba de baixar uma medida provisória (de número 652) com esse intuito, mas o programa já nasce com distorções. É que cem rotas existentes, muitas das quais rentáveis, também serão alvo do programa, e, nesse caso, o governo deverá subsidiar quem não precisa.

Incentivos fiscais e proteção temporária a setores nascentes são políticas admitidas nos acordos internacionais de livre comércio. Sem algum tipo de estímulo fiscal, regiões pouco desenvolvidas têm dificuldades de romper barreiras que as separam do progresso.

Mas a questão no Brasil é que os subsídios se tornaram o principal instrumento do governo federal para dar impulso a segmentos ou a empresas sem que os benefícios para o conjunto da sociedade sejam visíveis.


Por pressão da opinião pública e do próprio Congresso, o governo passou a explicitar o custo fiscal de alguns programas. Nessas contas agora aparecem a diferença entre os juros subsidiados de financiamentos do BNDES e os rendimentos dos títulos do Tesouro que lastreiam essas operações. Em face dessa diferença, o governo contraiu enorme dívida com o banco estatal, que já anda na casa das centenas de bilhões.

As chamadas desonerações tributárias também atingiram o patamar de dezenas de bilhões. Setores e empresas foram favorecidas, e nem por isso a indústria como todo e o conjunto da economia se tornaram mais competitivas. Ao contrário, essa política de favorecimentos fez com a dívida bruta do setor público voltasse a crescer, comprometendo um dos fundamentos que vinham servindo de alicerce para recuperação da economia brasileira.

Essa expansão da dívida bruta ampliou a necessidade de maiores superávits primários nas finanças governamentais. Mas essas ficaram debilitadas pelas políticas de desonerações e subsídios, que não redundaram em crescimento da economia e da arrecadação tributária. Tal dificuldade se refletiu nas expectativas dos mercados, antes positivas, e que passaram a ser negativas em relação ao futuro próximo.

Por essa razão, um programa necessário, como o da aviação comercial regional, dá seus primeiros passos cercado de desconfianças. Se tivesse havido um maior empenho em prol de uma reforma tributária mais ampla, talvez essas questões não estivessem mais sendo discutidas.

O Globo

PETEBRAS E SUA Estranha lógica

Quando enfrentam crise, as empresas cortam gastos. Já a Petrobrás caminha por outra lógica. Conforme reportagem do Estado, "os gastos com publicidade da Petrobrás aumentaram 17% no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado, saltando de R$ 132 milhões em 2013 para R$ 154 milhões nos seis primeiros meses de 2014". Esse aumento se deve aos gastos dos meses de maio e junho, que alcançaram a média de R$ 46 milhões, quando nos três meses anteriores a média havia sido de R$ 15,5 milhões. Simplesmente triplicou.

O aumento coincide com um dos períodos mais críticos da história da estatal. Na mesma época em que triplicou os gastos com publicidade, a Petrobrás anunciava, no dia 9 de maio de 2014, um lucro líquido no primeiro trimestre de R$ 5,393 bilhões, ou uma queda de 30% em relação ao mesmo período de 2013. O resultado era principalmente consequência de dois fatores: uma decisão de negócio - o plano de demissões voluntárias tinha gerado um impacto negativo de R$ 1,6 bilhão - e uma decisão política, não da Petrobrás, mas do governo federal - a defasagem de preços de combustíveis, para "conter" a inflação.

Com essa manobra nos preços, que só favorece a candidata à reeleição presidencial - e aumenta a expectativa de inflação futura -, a estatal perdeu nos três primeiros meses de 2014 o montante de R$ 4,8 bilhões na área de abastecimento. Com o consumo em expansão e uma queda na produção de petróleo - a Petrobrás tem, no governo Dilma, uma queda anual média de 1,5% na produção -, a estatal importa mais combustível, sofrendo com os preços administrados da gasolina e do diesel. A situação vem desde 2011, quando os preços internos se distanciaram dos internacionais.

No entanto, nada disso pareceu à diretoria da companhia suficiente para rever os gastos com publicidade. Ou melhor, reviu-os, triplicando-os. A publicidade da Petrobrás não alivia em nada sua crise. Ao contrário, só a aumenta. Com essa estranha lógica empresarial, a Petrobrás deixa claro que não está fazendo negócios. Está fazendo política eleitoral.

O aumento coincide - e tudo indica ser este o motivo o real - com a instauração de duas CPIs no Congresso para investigar suspeitas de corrupção na estatal. Num dos casos investigados - o superfaturamento e a evasão de divisas na compra da Refinaria de Pasadena -, o Tribunal de Contas da União aprovou por unanimidade um relatório que reconhece um prejuízo de US$ 792,3 milhões para a estatal em razão dessa operação. Noutro caso, onde há indícios de pagamento de propina pela empresa holandesa SBM a funcionários da Petrobrás, segundo cálculos da própria estatal, a suspensão dos contratos em razão da corrupção pode fazer com que o lucro entre 2014 e 2018 da companhia brasileira se reduza em US$ 15 bilhões.

Em resumo, há motivos de sobra para que o povo brasileiro se convença de que o governo federal, ao longo dos anos em que o PT está no poder, prejudica a estatal. E era necessária muita propaganda para melhorar a imagem da estatal. Ou melhor, do governo federal, fazendo parecer que tudo anda às mil maravilhas com a empresa que já foi tantas vezes motivo de orgulho do povo brasileiro.

 

Como se vê, o Palácio do Planalto e a diretoria da Petrobrás mostram uma tremenda sintonia política. Quando o Planalto precisa, está lá a estatal para bancar publicidade que em nada alivia sua situação financeira, mas ajuda o governo. Essa sintonia eleitoral tem um preço amargo. Pago pela empresa, que vê sua credibilidade ser afetada semanalmente. Pago pelos acionistas da estatal, que se veem como financiadores de um jogo que não é o seu. Pago pela sociedade brasileira, que vê um governo (ou melhor, um partido) abusar da maior empresa estatal para interesses próprios, tão distantes dos reais interesses nacionais.

Talvez seja por tudo isso que as ações da Petrobrás subam sempre que Dilma cai nas pesquisas. Alguém poderia pensar que se trata de um cálculo político. Mas é a simples constatação de uma situação empresarial. A presidente Dilma faz mal à Petrobrás.

O Estado de São Paulo
Estranha lógica