"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 24, 2014

BRASIL REAL SEM O MARQUETINGUE DOS CANALHAS : No sinal vermelho, inflação assusta motoristas e ambulantes


A preocupação com a alta dos preços chegou às esquinas das principais ruas e avenidas das grandes cidades brasileiras, onde crianças e adultos sobrevivem no mercado informal, vendendo produtos baratos para os motoristas.

Em São Paulo, onde cerca de 140 mil trabalhadores trabalham na informalidade, vendedores adotam diferentes estratégias para evitar que a inflação prejudique seus negócios. Alguns reduzem a quantidade de produtos nas embalagens, outros trocam de mercadorias e há quem simplifique o pacote para reduzir os custos e não perder a freguesia.

O dia dos marreteiros, como também são conhecidos os vendedores ambulantes, começa nas distribuidoras de doces e outras mercadorias baratas. Em São Paulo, o Bom Baiano, na região da Santa Ifigênia, é um dos principais pontos de abastecimento para ambulantes.

Por volta das 10h da manhã, eles se agrupam na frente da distribuidora enquanto preparam a mercadoria que vão vender em semáforos, ônibus, trens e calçadas. Alguns são frequentadores assíduos, a ponto de ficarem amigos dos funcionários da loja.

"Desde o início do ano temos notado um aumento nos preços, especialmente de uns dois meses para cá", diz o gerente do local, Gilson Barbosa Brito. Ele diz que a inflação já prejudica o movimento de vendedores, que geralmente têm pouco dinheiro dispo

Estratégias.
O ambulante Edson Freitas de Oliveira, conhecido pelos amigos como Biro-Biro, é um dos que utilizam essa estratégia. Com 51 anos de idade e experiência de 40 anos como vendedor de rua, ele conta que cada dia vende um produto diferente, desde que seja o mais barato da distribuidora.

Ele costuma começar os dias na distribuidora Bom Baiano e de lá segue até Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo, vendendo produtos no Metrô, no trem, nos ônibus e nos semáforos. Seu produto mais popular, até recentemente, era o chocolate Suflair, da Nestlé, mas ele diz que desistiu por causa da alta nos preços.

A caixa com 28 unidades de 30g cada, que custava R$ 25 até o ano passado, hoje sai a R$ 30. O vendedor diz que trabalha com margem de lucro de 50% em cada produto que vende, para voltar para casa no fim do dia com pelo menos R$ 80. Com algumas caixas de outro chocolate mais barato na sacola, Oliveira brinca que precisará vender "umas 50 para conseguir cortar o cabelo amanhã".

"Eu era pintor de carros e ganhava cerca de R$ 1,2 mil por mês", conta Biro-Biro. "Hoje faturo em média R$ 1.000, mas não sou escravo de ninguém. Tenho liberdade para fazer meu trabalho como achar melhor".

Para o ambulante, a venda que mais rende é em trens. Em dias bons, em um único vagão já dá pra esvaziar a sacola. "No semáforo, os motoristas acham que nossa mercadoria é ruim, muitos nem abrem o vidro".

Os ambulantes contam que existe uma certa sazonalidade ao longo do dia, ou seja, uma certa preferência por determinados tipos de produtos conforme hora do dia. Pela manhã, os produtos que mais vendem são chicletes e balas. Ao meio-dia, aumenta a procura por água e chocolates. No fim da tarde, bolachinhas, amendoins, batatas chips e outros salgadinhos para os trabalhadores que voltam cansados para casa e precisam enganar a fome.

Os vendedores sabem que é quase impossível lutar contra essa lógica do mercado. "Nem adianta querer vender outras coisas nesses horários que dá prejuízo", explica o ambulante Marco Sérgio Valentim da Silva.

Para sobreviver, Silva conta que precisou desenvolver estratégias alternativas com o objetivo de garantir a clientela. "Está impossível manter os preços de sempre", comenta ele. "Antes eu vendia pacotinhos de bala de goma oferecendo 4 embalagens por R$ 1, depois precisei subir para 5 por R$ 2, e agora o preço subiu tanto que as pessoas nem compram".

Ele desistiu não só das balas de goma como de outros produtos que considera que ficaram muito caros, como os chicletes Trident, o chiclete Suflair e as balas Halls. "Preciso vender uma caixa só para pagar a passagem de ida e volta e o cafezinho no meio do dia", reclama. 

Margem reduzida. 
Outro detalhe que encarece a venda de balas e guloseimas é a forma como são embaladas. Há tempos, os marreteiros adotaram a estratégia de anexar às embalagens mensagens impressas em xerox com o preço e alguma frase promocional. Os pacotes são então pendurados nos retrovisores dos carros nos semáforos e depois o vendedor retorna para recolher o dinheiro dos motoristas que resolvem comprar.

Nos últimos tempos, segundo os ambulantes, essa estratégia também está ficando inviável. Além do custo alto do produto, os ambulantes precisam arcar com o valor do plástico da embalagem, da impressão da mensagem com o preço e grampos. Tudo isso acaba reduzindo a margem de lucro e tornando o negócio inviável.

"O preço das coisas aumentou, e muitas pessoas querem mais comprar produtos por mais de R$ 1", diz ele. "Prejuízo, mesmo, é voltar para casa com esse monte de mercadorias", explica, enquanto corre para o Vale do Anhangabaú, seu ponto de vendas, com três sacolas enormes nas costas. Ele não revela o lucro que obtém por dia. "Deixa eu trabalhar que já está tarde!".

Sinal fechado. 
No cruzamento da Avenida Tiradentes com a Rua João Teodoro, no centro de São Paulo, Raphael Santos Almeida, de 16 anos, corre quando o semáforo fica vermelho. Durante os 56 segundos em que o sinal fecha, ele pendura pacotinhos no retrovisor de 12 carros e volta para pegar o dinheiro dos que compram, ou recuperar a mercadoria. Cada embalagem contém dois pacotes de chicletes Trident com três unidades e balas de goma. O preço, que já foi R$ 1 até o ano passado, agora é R$ 2. Para economizar em materiais, o valor é anotado no próprio plástico com caneta piloto.

Assim que sai da escola, ao meio-dia, Raphael vai do Grajaú, na zona sul da cidade, as vezes acompanhado dos pais, que também são marreteiros. "Compro o que vou vender no dia. Na volta, já pego algumas coisas para o dia seguinte e preparo pacotes para adiantar o trabalho", conta ele. "O bom mesmo é levar para casa todos os dias uns R$ 80".

(...)
Ao lado dele, disputando espaço na Avenida Tiradentes, Silvana Souza da Silva, de 42 anos, e sua filha Aline Cristina Maieru Pina, de 27, oferecem carregadores de celular, guarda-chuvas e brinquedos. As duas vêm todos os dias de Itaquaquecetuba, cidade a 42 quilômetros de São Paulo. Eles dizem que pararam de vender chocolates por causa do aumento de preços e gora vendem garrafas de água.

"Os preços estão muito altos e é só chegar o inverno que fica tudo mais caro ainda", afirma Silvana. Para compensar a perda de mercado, elas contam que mudam a oferta. "Além do lucro, precisamos tirar o dinheiro das duas conduções que usamos para ida e volta e também para o lanche", explica Silvana. "As vezes nem dá para almoçar".

Vivian Codogno - O Estado de S. Paulo

COM A "COMPETENTA" DESAVERGONHADA FRENÉTICA/EXTRAORDINÁRIA E A MAIS "PREPARADA" DO CACHACEIRO : NA FALTA DE COMPETÊNCIA, Haja "criatividade"

A presidente Dilma Rousseff completará quatro anos de mandato com um vergonhoso balanço econômico, se estiverem certas as novas projeções do Ministério do Planejamento: inflação acumulada de 26,78% e crescimento de apenas 8,23%. A inflação média terá superado 6% ao ano e o avanço anual da produção terá ficado em miseráveis 2,05%. O crescimento de 1,8% estimado para o PIB neste ano será um dos mais baixos do mundo e o segundo pior dos últimos quatro anos no Brasil (em 2012 ficou em 1%).

Até as economias mais abaladas pela crise entraram em recuperação nos últimos anos, algumas com muita dificuldade. Nenhuma delas, ao contrário da brasileira, retrocedeu. Mas o resultado efetivo para o Brasil poderá ser pior. Economistas do mercado financeiro baixaram para 0,97% a expansão esperada para 2014. A previsão do Banco Central (BC) já caiu para 1,6%, em seu último relatório trimestral sobre a economia.

Os efeitos da fraqueza econômica são evidentes, há meses, na evolução da receita federal. Em junho, a arrecadação total, de R$ 91,39 bilhões, foi apenas 0,13% maior que a de um ano antes, descontada a inflação. No semestre, o governo arrecadou R$ 578,59 bilhões, 0,28% mais que entre janeiro e junho de 2013. O aumento real, quando se comparam os dados mensais deste ano e do anterior, tem sido cada vez menor, desde março. Isso se explica principalmente pelo baixo nível de atividade e pela deterioração do poder de consumo.
Fechados os números do mês passado, o Ministério do Planejamento pôde realizar a terceira avaliação bimestral de receitas e despesas federais e refazer as estimativas orçamentárias para o ano. As novas projeções de crescimento econômico e de inflação foram usadas como base para o novo panorama fiscal. Com base nessa revisão, o governo decidiu manter os limites de empenho e de gastos fixados na avaliação do segundo bimestre. Se a previsão de aumento do PIB fosse menos otimista, as autoridades teriam de programar despesas menores para a segunda metade do ano - uma perspectiva muito ruim para um governo gastador, especialmente quando a presidente se empenha em ser reeleita.

Mas esse risco foi afastado, por enquanto. A nova estimativa de receita líquida, depois das transferências a Estados e municípios, apontou, segundo um relatório, acréscimo de R$ 714,5 milhões. Por extraordinária coincidência, esse é o valor do aumento previsto para as despesas primárias de execução obrigatória. As despesas primárias são calculadas sem os juros e amortizações da dívida pública.
Há pontos misteriosos na nova revisão orçamentária. Um deles é o aumento de R$ 3 bilhões na receita estimada para o Refis, o programa especial de parcelamento de dívidas tributárias. A estimativa inicial, divulgada há meses, apontava arrecadação de R$ 12,5 bilhões. Com as últimas inovações no programa, divulgadas há poucas semanas, a arrecadação prevista subiu para R$ 15 bilhões. Com o relatório bimestral houve nova mudança: o valor subiu para R$ 18 bilhões.

O documento menciona, entre as receitas extraordinárias, o pagamento de R$ 2 bilhões pela Petrobrás, valor que corresponde ao bônus de concessão direta - sem licitação - de quatro áreas do pré-sal.

As projeções incluem R$ 27,02 bilhões de receitas extraordinárias. Não há referência, pelo menos explícita, à previsão de dividendos pagos pelas estatais. Esses dividendos, juntamente com a receita do Refis e os bônus de concessões de infraestrutura, têm sido importantes para a formação do superávit primário, o dinheiro separado anualmente para o serviço da dívida pública.

Neste ano está programado um resultado primário de cerca de R$ 80 bilhões para o governo central. Esse resultado parece agora muito difícil. A estimativa de crescimento real de arrecadação já foi reduzida de 3% para 2%. No primeiro semestre, o aumento da receita em relação a um ano antes, de 0,28%, ficou muito longe da meta. Para fechar as contas, o governo provavelmente precisará de mais criatividade contábil que nos anos anteriores.

O ESTADO DE S.PAULO
Haja criatividade

ENQUANTO ISSO ... brasil maravilha DOS VELHACOS : IDH - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento mostra que País ocupa 79º lugar entre 187 nações

O Brasil subiu uma colocação no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 2013. O relatório, divulgado nesta quinta-feira, 24, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mostra o País em 79º lugar entre 187 nações. Com essa classificação, o Brasil continua sendo considerado como país de alto desenvolvimento humano.

Especialistas da ONU dizem que o avanço discreto do Brasil no ranking se deve à crise financeira internacional que começou em 2008, à desigualdade de renda e ao crescimento acelerado de países que só agora começaram a criar políticas de combate à extrema pobreza, como Ruanda. Além do Brasil, apenas 37 países alcançaram uma colocação melhor que no ano passado. No geral, o ranking do PNUD retrata um período de pouca mudança: 114 nações mantiveram posições conquistadas em 2012 e outras 35 tiveram desempenho pior.

O pequeno crescimento obtido pelo País, no entanto, se perde quando se faz uma análise de um período maior. O relatório mostra que no período entre 2008 e 2013 - período da crise financeira internacional -, o País caiu quatro posições. Dentre os países do BRICS, Brasil é o único que apresenta a queda. No mesmo período, a África do Sul subiu duas posições; Índia avançou uma, a Rússia manteve a colocação. Do grupo, a China foi a que mais cresceu, de acordo com o relatório: 10 posições.
"
Não mergulhamos para saber o que fez o Brasil ter um desempenho pior dentro dos países do BRICs", reconheceu a coordenadora do Atlas do Desenvolvimento Humano Brasileiro, Andrea Bolzon. Coincidência ou não, a partir de 2008 o Brasil só teve um crescimento melhor do que o apresentado pela Rússia no grupo dos BRICs. O relatório destaca apenas que a Rússia apresenta uma educação menos desigual. Para Andrea, o que mais torna mais lento o avanço do Brasil no índice é a desigualdade na renda.
Três quesitos.
Desenvolvido há 24 anos pelo PNUD, o índice tem uma escala de 0 a 1. Quanto mais próxima de um, melhor a situação do país. O Brasil alcançou índice 0,744. Noruega, a primeira colocada, 0,944. O pior indicador foi do Níger: 0,337. As notas são dadas a partir da avaliação de três quesitos: 
saúde, educação e rendimento.

Para o coordenador do sistema das Nações Unidas no Brasil, Jorge Chediek, o fato de o Brasil ocupar apenas a 79° posição no ranking, atrás dos vizinhos Chile (41°), Argentina (49°), Uruguai (50°) e Venezuela (67°) é resultado de problemas históricos. "O passivo é enorme. Não podemos esquecer que o Brasil apresentou melhoras consistentes nos últimos 30 anos", justificou. "Em 1980, a média de tempo de escola do brasileiro era a de 2,6 anos e a expectativa de vida, de 62,7 anos", completou.

Educação. 
O que garantiu ao Brasil avançar um pouco a colocação no ranking , avaliou Chediek, foi a educação e, sobretudo, a mudança na metodologia usada para fazer o cálculo dos indicadores. A partir de agora, a expectativa de anos estudados - uma espécie de expectativa de vida escolar - tem peso semelhante a outro indicador, a de anos estudados. A alteração é uma antiga reivindicação de países, sobretudo o Brasil, que reclamavam que o indicador estampava condições ofertadas para alunos no passado e não condições atuais.

O relatório deste ano mostra que uma criança no Brasil tem expectativa de estudar 15,2 anos, a melhor entre os países do BRICs. Rússia, a segunda colocada nesse quesito entre o grupo, traz uma expectativa de anos escolar de 14 anos. O Brasil perde, no entanto, na comparação com vizinhos Argentina e Uruguai. A esperança é a de que as crianças argentinas que iniciam agora os estudos terminem o ciclo dentro de 16,4 anos e as uruguaias, 15,5 anos. O melhor desempenho entre os países analisados é o da Austrália. Crianças australianas têm expectativa de estudar 19,9 anos.

LÍGIA FORMENTI E LEONENCIO NOSSA - O ESTADO DE S. PAULO