"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 04, 2014

Quando novembro chegar



Dilma tem razão quando afirma que a situação do país vai melhorar quando novembro chegar. Sim, vai melhorar porque o eleitor terá decidido por ponto final à experiência de governo do PT. O país atravessa uma de suas mais graves crises de confiança, atestada pela pesquisa do Pew Research. O brasileiro olha para a governante no Planalto e não enxerga nela quem possa lhe conduzir a um amanhã melhor. Afinal, foi ela mesma quem nos trouxe a este presente penoso.

É preciso dar razão à presidente Dilma Rousseff: 
a situação do país vai melhorar quando novembro chegar. Vai melhorar porque o eleitor brasileiro terá decidido por ponto final à experiência de governo do PT. Quando novembro, finalmente, chegar, o Brasil estará a um passo de começar a mudar. 

Ninguém aguenta mais o que aí está. 
O país atravessa hoje uma de suas mais graves crises de confiança. 
O futuro parece turvo, se não para todos, para grande maioria. 

O brasileiro olha para a governante no Palácio do Planalto e não enxerga nela quem possa lhe conduzir a um amanhã melhor. 
Afinal, foi a mesma governante quem o trouxe a este presente penoso.


As expectativas estão ruins. 
Do empresário que desiste de produzir ao consumidor que prefere não comprar, passando pelo investidor que migra seu dinheiro daqui para bem longe. 
Dilma e um monte de petistas acha que é pura birra de quem faz beicinho”, como decretou o ministro Paulo Bernardo há uns meses. 
Não entendem – ou não querem compreender – como funcionam as coisas no mundo real.

Os indicadores de confiança e expectativa estão todos apontando para baixo. 
Os da indústria, do comércio e dos consumidores estão nos menores níveis desde a crise de 2008, ano em que o mundo todo mergulhou numa profunda recessão. Ao contrário de antes, contudo, o mau humor agora é propriedade nossa, exclusividade dos brasileiros.

A constatação é reforçada por pesquisa feita pelo Pew Research Center divulgada ontem nos EUA. Os números são acachapantes. 
Para começar, 72% dos brasileiros estão insatisfeitos com a situação do país.
O nível de insatisfação, porém, não é de agora: 
supera sistematicamente o de satisfação desde 2012, embora o abismo entre um e outro tenha se acentuado nestes últimos 12 meses.

A situação da nossa economia é ruim para 67% dos pesquisados, numa situação completamente inversa à de um ano atrás, quando 59% a avaliavam como boa. Neste caso, a reversão é total: desde 2010, quando o Pew Research fez sua primeira pesquisa nacional, até 2013, as avaliações positivas sobre o ambiente econômico brasileiro sempre superaram as negativas.
Os resultados colhidos não decorrem de avaliações aleatórias. 
O brasileiro sabe exatamente o que lhe incomoda: 
85% apontam a alta de preços, a inflação, como principal problema do país atualmente. Insegurança e falta de saúde aparecem logo na sequência, com 83%. Também preocupam a corrupção política (78%) e a perda de oportunidades de trabalho (72%).

A visão que os entrevistados professam em relação à forma com que Dilma Rousseff cuida dos principais assuntos do país é amplamente negativa. 
O Pew Research apresentou nove temas e áreas aos pesquisados e em absolutamente todos a relação é de, no mínimo, dois que desaprovam para cada um que aprova, chegando a seis para um no caso da corrupção, da segurança e da saúde.

“O atual nível de frustração que os brasileiros expressam em relação à direção do seu país, a sua economia e os seus líderes não tem paralelo nos anos recentes”, resumem os pesquisadores. Segundo Juliana Horowitz, brasileira responsável pelo trabalho, o instituto fez levantamentos em 82 países desde 2010 e só viu oscilações tão acentuadas em lugares que passaram por crises ou rupturas institucionais, como o Egito, registra O Estado de S. Paulo.

O que o Pew Research, um dos principais institutos de pesquisa dos EUA, constata é algo que os que vivemos no Brasil atestam cotidianamente. 
Tornou-se insuportável aceitar a degradação das condições de vida, o desleixo com conquistas econômicas e sociais, a corrosão de valores que se tornaram norma nos anos recentes. 

Já deu. 
Que novembro chegue rápido, para enxotar o quanto antes esta gente do governo.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

"PULITICA/PULITICAGEM" ! "não há nada de errado em seguir a carreira de um parente. Mas a disputa eleitoral não pode se resumir ao "pedigree" dos candidatos." Quase metade do Congresso tem parentes na política


Quase metade dos parlamentares têm parentes na política: 44% dos deputados e 64% dos senadores. É o que mostra mapeamento inédito das ligações familiares de congressistas eleitos em 2006 e 2010, por estado, partido, idade e gênero, feito pela ONG Transparência Brasil.

A Região Nordeste tem a maior proporção de congressistas com parentes políticos: 
60% dos deputados e 70% dos senadores. 
É o caso dos presidentes das duas casas, o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). 
O pai de Renan foi prefeito e vereador de Murici (AL). 
Seu irmão Olavo é deputado estadual, 
seu irmão Renildo é prefeito de Olinda (PE),
 seu irmão Remi é prefeito de Murici (AL) 
e o filho, Renan Calheiros Filho, é deputado federal pelo PMDB. 

Alves é filho do ex-governador do Rio Grande do Norte Aluizio Alves, 
sobrinho do ex-prefeito de Natal Agnelo Alves e do senador Garibaldi Alves, primo do ministro da Previdência (e senador licenciado) Garibaldi Alves Filho e do atual prefeito de Natal (RN), Carlos Eduardo Alves.
Mulheres – 
O levantamento da Transparência Brasil encontrou mais laços familiares entre parlamentares mulheres: 58% das deputadas e 91% das senadoras. 
Muitas delas são ou foram casadas com políticos – ou as duas coisas, no caso de Lauriete (PSC-ES), mulher do senador Magno Malta e ex do ex-deputado Reginaldo Almeida. 

Estão neste grupo, entre outras: 
as deputadas Marinha Raupp (PMDB-RO), mulher do senador Valdir Raupp; Elcione Barbalho (PMDB-PA), ex-mulher do senador Jader Barbalho; 
e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ex-deputado e atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
Partidos – 
Na Câmara, DEM e PMDB têm as bancadas com a maior proporção de políticos com familiares na política, 67% e 64%, respectivamente, incluindo: 
o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), filho, irmão, cunhado e primo de políticos; e Nilda Gondim (PMDB-PB), que é filha do ex-governador da Paraíba Pedro Gondim, foi casada com o ex-deputado Vital do Rêgo e é mãe do senador Vita do Rêgo Filho e do ex-prefeito de Campina Grande Veneziano Vital do Rêgo.

No Senado, as taxas mais altas são do PP (100%), PSDB (82%) e PMDB (78%). Todos os cinco senadores pepistas têm laços familiares com políticos, entre eles Francisco Dornelles (PP-RJ), primo de Getúlio Vargas, sobrinho de Tancredo Neves e também primo do senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG), por sua vez é neto de Tancredo e filho do ex-deputado Aécio Cunha.

O PMDB do Senado abriga representantes de alguns dos mais poderosos clãs regionais, entre eles o ex-presidente José Sarney (AP),
 pai do deputado Sarney Filho (PV-MA) 
e da governadora do Maranhão, Roseana Sarney; 
Lobão Filho (MA), filho do ministro Edison Lobão 
e da deputada Nice Lobão; 
além de Renan (AL) e Barbalho (PA), entre outros.
Clãs – 
Obviamente, não há nada de errado em seguir a carreira de um parente. 
Mas a disputa eleitoral não pode se resumir ao "pedigree" dos candidatos. O levantamento da Transparência Brasil chama atenção para o fato de que a maioria dos novos rostos do Congresso são, na verdade, membros mais jovens de velhos clãs políticos. 

Dos 228 deputados com parentes na política, 53% são "herdeiros". 
Entre os menores de 40 anos, 64% integram clãs. 
Entre os menores de 30 anos, a proporção chega a 78%. 
E isso que o levantamento só considera parentes eleitos e suplentes que efetivamente tenham assumido a cadeira, deixando de fora da conta secretários e candidatos derrotados nas urnas.

O peso de um sobrenome fica evidente no batismo político: 
vários herdeiros adotam a marca do parente famoso, em vez de seu próprio nome civil. 

Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro preso José Dirceu, chama-se José Carlos Becker de Oliveira e Silva; 
Irajá Abreu (DEM-TO), filho da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), é Irajá Silvestre Filho; 
Marcelo Matos (PDT-RJ), irmão de Sandro Matos, prefeito de São João do Meriti, foi registrado como Marcelo Viviani Gonçalves; 
e André Moura (PSC-CE), filho dos ex-deputados Reinaldo e Lila Moura, chama-se André Luis Dantas Ferreira.

Sobrevivência – 
Um Congresso em que o poder passa de uma geração a outra da mesma família pode acabar moldando uma base parlamentar avessa a mudanças, alerta Natália Paiva, coordenadora de projetos da Transparência Brasil. Isso na hipótese mais benevolente. Mais grave, a parentada pode servir como último recurso de políticos desgastados ou mesmo impedidos de disputar eleições.

Em 2010, temendo encrencar-se com a Lei da Ficha Limpa, Joaquim Roriz desistiu da candidatura ao governo do Distrito Federal em favor da mulher, Weslian, cujo despreparo entraria para o anedotário da política brasileira. No fim, por decisão do Supremo Tribunal Federal, a lei não valeu para a corrida eleitoral de 2010.

As eleições de 2014, portanto, serão as primeiras de âmbito estadual e federal na vigência da lei. E vários caciques já preparam a entrada em cena de seus herdeiros de ficha limpa. Entre os novatos que podem disputar seu primeiro mandato este ano estão Natanzinho, filho do deputado cassado e preso em 2013 Natan Donadon (ex-PMDB-RO), e Expedito Neto, filho do ex-senador pelo PSDB Expedito Júnior (GO), cassado em 2009.

Veja.com

LEMBRAM DA FOXCONN? Onde estão os IPADs e IPHONEs “Made in Brazil”?


 No início do governo Dilma, muito se falou da “revolução” que seria produzir Ipads e Iphones no Brasil. O governo brasileiro fez esforços para que, o maior fabricante desses aparelhos, a empresa Foxconn de Taiwan aumentasse os investimentos no Brasil. 

A Foxconn opera megas fábricas na China. 
Algumas com mais de 300 mil trabalhadores.

A ideia era que, a ampliação dos investimento da Foxconn, no Brasil, traria novos investimentos para o país e aumentaria a “densidade” da cadeia de eletro-eletrônicos. No futuro, o Brasil se tornaria um pólo de exportação desses produtos eletrônicos.

Alguns dos meus amigos na academia americana enxergaram nessa estratégia do governo brasileiro um sinal de conhecimento sofisticado do funcionamento de cadeias globais de produção. Segundo eles, o governo brasileiro estaria adotando a estratégia correta de atrair investimentos da Foxconn e, em seguida, fazer o mesmo com os fornecedores da Foxconn.

Há algum sinal de sucesso dessa estratégia? 
Absolutamente nenhum sinal.

Primeiro, como o Brasil é um país relativamente fechado, seria natural que a Foxconn e Apple produzissem alguns dos Iphones e Ipads no Brasil para vender aqui e no Mercosul, desde que contassem com incentivos fiscais – o que ocorreu. Mas achar que o Brasil se tornaria um grande pólo de exportação desses produtos, um país de custo de produção elevado, é fantasioso.

Segundo, para decepção de todos e vergonha geral da nação, quando os produtos “made in Brazil” chegaram às lojas, os preços cobrados eram exatamente os mesmos dos produtos importados – o que seria o esperado para qualquer economista. 
No entanto, algumas pessoas acreditavam na forte queda dos preços quando aqui fossem produzidos os Iphones e Ipads. Assim, o governo concedeu subsídios para a Foxconn, mas os produtos não tiveram os preços reduzidos. O custo era o mesmo que antes pagávamos pelos importados. 
Isso é coisa de gênio!

Ainda bem que o Secretário de Políticas de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia, Virgílio Almeida, esclareceu que as regras do Processo Produtivo Básico (PPB) – regras que as empresas precisam cumprir para terem direito aos incentivos fiscais- não exigem que as companhias reduzam os preços dos aparelhos. Afinal, o objetivo era ter empresas de classe mundial produzindo um produto aqui:“….. empresas estão produzindo aqui um equipamento de classe mundial, e essa tecnologia vai se irradiando, o ecossistema industrial se alimenta dessa tecnologia”, afirma o secretário.”(clique aqui).

Terceiro, qual grupo empresarial apostou neste plano de produzir Iphones e Ipads no Brasil? Talvez algum grupo com vasta experiência em gestão de empresas e que, ao longo de décadas, cresceu e se diversificou. 
Será que aos acionistas da 3G capital apostaram nisso? 
Será que o grupo Votorantim apostou nisso? 
Ou que tal nossas grandes empreiteiras como Odebrecht, etc.?

 Não os dois grandes sócios da Foxconn, no Brasil, seriam Eike Batista e o BNDES. Não sei sobre o Banco, mas duvido que Eike Batista queira e possa agora continuar nessa empreitada.
Os Iphones e Ipads já são produzidos no Brasil, mas nada mudou para o consumidor, que continua pagando um preço muito caro por esses aparelhos. Nada mudou também em relação aos nossos indicadores agregados de inovação e de exportação de manufaturas, que continuam patinando. 
Em 2006, o saldo da balança comercial de manufaturas foi de US$ 5 bilhões e, em 2013, esse saldo se transformou em um déficit de US$ 105 bilhões. A culpa não foi do Ipad ou do Iphone.

O que de fato mudou foi que, nunca mais, representantes do governo falaram da revolução que seria produzir Ipads e Iphones, no Brasil. 
E os lançamentos dos novos modelos desses aparelhos continuam chegando no mercado brasileiro com atraso em relação ao mercado internacional.
“E dai? o que importa é que hoje produzimos Iphones e Ipads”. 
Produzimos carros também, mas o crscimento do PIB neste e no próximo ano será abaixo de 2%. Adicionalmente, se o governo continuar com o seu plano de resolver os nossos problemas com a concessão indiscriminada de subsídios, o que parece ser a política oficial, o resultado será novos aumentos de carga tributária, aumento da dívida e/ou mais inflação (isso ninguém fala, mas esperem para ver o que acontecerá pós-eleição se o governo atual for reeleito).

Infelizmente, ainda existem pessoas que acham que fabricar Iphones e Ipads, no Brasil, é exemplo de política industrial moderna. Essas mesmas pessoas acreditam que um desequilíbrio macroeconômico é justificável desde que o resultado seja a criação de um parque tecnológico. Se olhassem com mais cuidado para a Coreia, saberiam que aquele país tinha elevada poupança e limitada rede de assistência social quando adotou políticas industriais ativas. Não é hoje o caso do Brasil.
Há espaço para se fazer política industrial? 
Sim, mas não na magnitude que pessoas no governo acreditam. 
Ao que parece, o nosso maior “sucesso” da política industrial foi a criação de uma mega frigorífico (JBS/Friboi), uma empresa que o governo possui 30% do seu capital e que está perto de se tornar a segunda maior empresa do Brasil, atrás apenas da Petrobras. O Brasil é hoje um país mais inovador? Não. 
Se não acreditarem, convidem o meu amigo Silvio Meira (UFPE e C.E.S.A.R) para um bate papo.

OBS: Em 2011, escrevei neste blog sobre o meu ceticismo em relação ao plano do governo de incentivar a produção de Iphones e Ipads no Brasil (clique aqui). Ao que parece, eu estava correto.