"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 11, 2011

O AMOR BANDIDO PELO "GOVERNO" DA DISSIMULAÇÃO E HIPOCRISIA, OU SEJA, TORPE.

Virou dramalhão a saga de corrupção que se desenrola no governo Dilma Rousseff.

Em seu capítulo mais recente, desenrolado no Ministério do Trabalho, tem como protagonistas um ministro com pinta de canastrão e uma presidente com pose de superstar.

Ao distinto público, o que ambos oferecem é o escárnio.

Carlos Lupi foi ontem ao Congresso se defender das acusações de corrupção que assolam sua pasta. Adotou um estilo algo fanfarrão para esgrimir-se das críticas que lhe foram desferidas.
Mas coroou sua atuação diante dos parlamentares com um "te amo" endereçado à presidente da República.

"Presidente Dilma, desculpa se fui agressivo. Te amo. Só pede desculpa quem é humano e sabe que pode errar", disse Lupi, teatralmente, dois dias depois de ter declarado a plenos pulmões que só deixaria o cargo de ministro do Trabalho se fosse "abatido à bala".

A resposta de Dilma veio no mesmo tom galhofeiro.
"Sabe como é que é? Tinha, se eu não me engano, um líder gaúcho, que não vou dizer qual, antigo, que dizia o seguinte:
o passado simplesmente passou. Gente, o passado passou. Não tem crise com o ministro do Trabalho", afirmou ela, segundo O Globo.

Em que novela de TV esta gente está?

Se havia dúvidas de que a faxina que a presidente por vezes disse ensaiar nunca passou de mentirinha, agora fica claro que o que interessa a Dilma é passar uma bucha no que para ela é "passado".

Para a sociedade brasileira, porém, a roubalheira praticada e avalizada pelo governo petista continua sendo muito presente.
Mais que presente, é caso de polícia.

A Folha de S.Paulo mostra hoje que Lupi liberou verbas para a organização não governamental (ONG) de um pedetista mesmo depois de a entidade já ser alvo de inquérito da Polícia Federal por suspeitas de irregularidades em convênio com o Ministério do Trabalho.

Os valores envolvidos chegam a R$ 6,9 milhões.
O Globo retrata caso parecido ocorrido em Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte. Em dezembro passado, o Ministério do Trabalho assinou convênio de R$ 1,9 milhão com uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) investigada pela PF, denunciada pelo Ministério Público e suspeita de desviar recursos públicos.

O objetivo do curso patrocinado pelo ministério de Lupi em Minas era treinar 2,4 mil operadores de telemarketing, mas até ontem, faltando um mês para o término do prazo do convênio, só 200 pessoas tinham sido capacitadas.

Ontem, O Estado de S.Paulo havia divulgado caso parecido: o da ONG Oxigênio, de um amigo do ex-presidente Lula, que recebeu R$ 24 milhões para projetos de qualificação profissional.

Sob investigação desde 2006, sob suspeita de não entregar o que promete, só na semana passada a entidade foi repreendida pelo ministério de Lupi.

O que, então, é passado, como diz a presidente Dilma, nesta saga de corrupção? "A onda que assola o País não é essa [de denuncismo], é a da corrupção. As denúncias são apenas consequência.

E a demissão de cinco ministros de estado por elas atingidos revela que todas têm tido fundamento", opina o Estadão em editorial.

Nos sinais que emite, o governo federal demonstra horror à luz desinfetante do sol.

Como, por exemplo, quando vetou, anteontem, o acesso da imprensa a um seminário destinado a discutir o novo "marco regulatório das organizações da sociedade civil", ou seja, ONG e assemelhados, várias das quais no foco das denúncias de corrupção.

Ou quando o ministério de Lupi desvirtua o trabalho de apuração da imprensa ao divulgar, antes da publicação pelos próprios meios, perguntas e respostas endereçadas por jornais, rádios e TV à pasta.

O mesmo estratagema, de constranger a investigação isenta dos veículos de comunicação, já fora adotado pela Petrobras em 2009.
O que resta claro é que a novela da corrupção protagonizada pelo governo Dilma entrou numa nova fase do enredo. Nos primeiros capítulos, com Antonio Palocci no papel, o denunciado estrebuchou por semanas a fio antes de cair.

Nos seguintes, com Alfredo Nascimento e Wagner Rossi como protagonistas, a queda foi rápida. Com Orlando Silva, tentou-se uma queda de braço com a opinião pública, que mais uma vez se sobrepôs.
Agora, com os escândalos no Ministério do Trabalho, Carlos Lupi e Dilma Rousseff ensaiam cenas de pura canastrice, com suas falas de menosprezo ao que pensa e quer a sociedade brasileira.

Ao agir desta maneira, relevar as denúncias e querer transformá-las em pretérito, a presidente da República mostra que só faz o que deve ser feito quando se torna impossível atuar de maneira diferente. Lupi está confortável no seu papel.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela