"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 03, 2011

Dívida externa aumenta 43%, reservas do Brasil superavam a dívida em 21%. Esse percentual caiu para 12% no final de 2010, e agora está em 17%

Passado o impacto mais agudo da crise internacional, a recuperação da economia brasileira provocou um efeito colateral ainda pouco comentado e compreendido: a alta mais acelerada da dívida externa desde o Plano Real.

Ou, mais exatamente, desde que, em 1994, às vésperas do lançamento da atual moeda, foi fechado o acordo com os credores para normalizar os pagamentos e reabrir o mercado global de crédito para o governo brasileiro e para as empresas do país.

Do final do ano retrasado para cá, a dívida externa conjunta de empresas, administrações públicas e famílias cresceu 43%.

A taxa supera a expansão ao longo dos 15 anos anteriores, de 34%.
Se as consequências dessa escalada ainda não estão claras, as causas são fáceis de explicar:
no mundo desenvolvido, as taxas de juros despencaram para reativar a produção e o consumo; no Brasil, os investimentos públicos e privados tiveram uma forte retomada.

JUROS ALTOS

O cenário criado após o terremoto financeiro de 2008-2009 estimulou bancos e empresas do setor produtivo a buscar empréstimos e financiamentos no mercado internacional para aplicar e investir no mercado doméstico -no qual a oferta de recursos é escassa e os juros são os mais altos do planeta.

A dívida externa, que era de pouco menos de R$ 200 bilhões no final de 2009, chegou a R$ 284 bilhões em maio.

A parcela privada da dívida, hoje equivalente a três quartos do total, cresceu R$ 87 bilhões, enquanto a parcela pública da dívida encolheu R$ 1 bilhão.

Autor de um trabalho recente sobre o tema, o economista Julio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirma que, embora não haja risco imediato, o salto da dívida ameaça a sustentabilidade do crescimento econômico.


RISCOS

"Esse é um processo insustentável a longo prazo e arriscado do ponto de vista empresarial", diz Almeida.

O perigo mais óbvio da dependência crescente de capital externo é a eventual reversão do quadro favorável atual.
A alta dos juros externos ou das cotações do dólar pode tanto criar dívidas impagáveis quanto derrubar a produção nacional.


O próprio governo já manifestou preocupação com o crescimento da dívida do setor privado. Em março, para conter esse movimento, houve aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para dívidas com prazo inferior a dois anos.
Nos dois meses seguintes, as dívidas continuam crescendo, mas com prazos mais longos.


Há uma diferença óbvia entre o recente salto do endividamento brasileiro e os que provocaram colapsos econômicos nas décadas de 1980 e 1990:
o Banco Central conta com um volume inédito de reservas em moeda estrangeira, de US$ 336 bilhões.


CREDOR INTERNACIONAL

Ou seja, o Brasil tem mais dólares do que dívida em moeda estrangeira.
Deixou de ser um devedor internacional para se tornar credor.
Possui dólares mais do que suficientes para cobrir essa dívida, caso fosse necessário pagá-la de uma única vez.


No final de 2009, as reservas do Brasil superavam a dívida em 21%.

Esse percentual caiu para 12% no final de 2010, e agora está em 17%.


Ao calcular o endividamento, não são considerados os empréstimos entre matrizes e filiais de empresas multinacionais que operam no Brasil.
Nesse caso, a dívida supera as reservas.


O economista Bruno Lavieri, da consultoria Tendências, diz que a dívida brasileira ainda é bastante contida e que o país continua sendo credor em moeda estrangeira, por conta das reservas elevadas.
Para ele, o aumento do IOF conseguiu conter esse movimento de piora