"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 27, 2011

DÉFICIT EXTERNO DOBRA EM MAIO.



O déficit em transações correntes do Brasil dobrou em maio frente ao ano anterior e alcançou 4,10 bilhões de dólares, valor recorde para o mês, refletindo uma elevação dos gastos de brasileiros em viagens internacionais e crescimento das remessas ao exterior de lucros e dividendos.

O investimento estrangeiro direto, por outro lado, apesar de não ter sido suficiente para financiar sozinho o déficit em conta corrente, voltou a surpreender positivamente o Banco Central e foi recorde para meses de maio, em 3,97 bilhões de dólares.

Para 2011, o BC manteve a projeção de déficit em conta corrente de 60 bilhões de dólares, mas fez ajustes na composição dessa saldo.
Para o IED, o prognóstico também ficou estável, em 55 bilhões de dólares
.


O saldo negativo de maio, divulgado nesta segunda-feira, ficou um pouco acima do esperado por analistas, de um déficit de 3,8 bilhões de dólares.
Em igual período do ano passado, o déficit havia sido de 2 bilhões de dólares.


No mês, as remessas de lucros e dividendos por empresas multinacionais aumentaram para 4,189 bilhões de dólares, ante 2,880 bilhões de dólares há um ano, movimento que o BC atribuiu à elevação do estoque de investimentos no país e ao crescimento da economia doméstica.

O gasto com viagens internacionais também seguiu em alta, apesar do aumento da taxação sobre despesas internacionais com cartão de crédito promovido pelo governo com validade a partir do final de abril. No mês passado, a conta viagens ficou negativa em 1,120 bilhão de dólares, valor recorde para o mês, com as despesas dos brasileiros somando 1,664 bilhão de dólares, valor também recorde.

Despesas com a contratação de outros serviços internacionais, como seguros e aluguel de equipamentos e computação, também cresceram, contribuindo para alimentar o déficit.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, ponderou que, na comparação com abril, houve uma desaceleração do crescimento dos gastos com cartão frente ao mesmo mês do ano anterior, de 54 por cento para 34 por cento.

'É uma primeira observação, ainda é preciso esperar para avaliar a tendência, mas houve desaceleração', afirmou.

PROJEÇÕES

Os investimentos de estrangeiros em ações no país mostraram certa recuperação no mês passado, somando 1,707 bilhão de dólares em entradas líquidas, frente a uma saída líquida de 3,349 bilhões de dólares dessas aplicações no mesmo mês do ano passado.
Dados preliminares de junho, no entanto, já mostram uma piora do fluxo, com saída de 1,143 bilhão de dólares.


'Os ingressos para ações têm sido relativamente baixos este ano. Isso reflete um momento de maior incerteza internacional, maior cautela dos investidores. É algo que vem ocorrendo em várias bolsas, não só no Brasil', afirmou Maciel.

Para o ano, o BC reduziu suas projeção para investimento em
papéis domésticos e ações de 15 bilhões para 7 bilhões de dólares principalmente por conta da retração já observada nas aplicações em ações.

A autoridade monetária também reduziu seu prognóstico para as captações de curto prazo de 27 bilhões para 5,5 bilhões de dólares. Neste caso, a alteração é um reflexo da taxação imposta, no final de março e início de abril, aos empréstimos obtidos no exterior com prazo de até 720 dias.

A estimativa para os desembolsos de longo prazo, por outro lado, foi ampliada de 49,8 bilhões para 71,9 bilhões de dólares acompanhando um movimento já observado de alongamento dos empréstimos após a medida.

A nova estimativa do BC é que a balança comercial feche o ano com superávit de 20 bilhões de dólares, ante projeção anterior de 15 bilhões de dólares. A revisão levou em conta a melhora dos dados comerciais nos primeiros cinco meses do ano, provocada principalmente pela alta dos preços das commodities.

Os prognósticos para as remessas de lucros e dividendos e de gastos com viagens, por outro lado, aumentaram, de 34 bilhões de dólares e 12 bilhões de dólares, respectivamente, para 37 bilhões e 15 bilhões de dólares.

Para junho, o BC previu um déficit em transações correntes de 4,2 bilhões de dólares e IED de 4,5 bilhões de dólares. Nos 12 meses até maio, o déficit em conta corrente correspondeu a 2,29 por cento do PIB.

(Reuters)

$EM "MARQUETINGUE" O VERDADEIRO BRAsIL DO (P)artido (T)orpe.

Apesar das conquistas dos últimos anos, país mantém olhos fechados para problemas cruciais, como a enorme carga tributária e a infraestrutura deficiente, que podem inibir o crescimento

No topo das preferências dos grandes investidores estrangeiros, o Brasil das oportunidades está escancarando problemas que reluta em enfrentar. O crescimento da economia, a redução das desigualdades e a melhora do padrão de vida da população vêm trombando com um país cheio de gargalos, que todos veem, mas poucos se dispõem a superá-los.

Seis meses praticamente se passaram do governo de Dilma Rousseff e tudo continua na mesma: estradas, portos, ferrovias e aeroportos precários, taxas de juros elevadíssimas, falta de mão de obra qualificada, carga tributária pesada e injusta e baixos investimentos públicos.

É esse Brasil do atraso que pode travar a continuidade do desenvolvimento a taxas acima de 4% ao ano e manter latente o dragão da inflação.

"O país está estrangulado. Isso é termômetro da falta de uma agenda clara do governo, que está demonstrando falta de capacidade para formular e implantar políticas públicas para resolver os gargalos", diz o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani.

Para ele, a recente decisão de privatizar os maiores aeroportos brasileiros é um sintoma da falta de projeto de desenvolvimento consistente, pois a então candidata Dilma havia garantido, durante a campanha, que isso não aconteceria. A deficiência do setor, combinada à escassez de recursos públicos, obrigou a presidente a tomar um choque de realidade.
Ainda que a mudança de posição tenha ocorrido tarde, seria um avanço, não fosse ela um fato isolado em um quadro de extrema ineficiência.

Nas poucas vezes em que o governo sinalizou que agirá no sentido de pôr o país nos trilhos da modernidade, tudo não passou de promessas.
A mais recente delas tem como alvo o estrangulado setor portuário do país.
Segundo o Palácio do Planalto, para incrementar o comércio exterior e reduzir os custos operacionais, a construção e a gestão de 45 portos serão entregues à iniciativa privada.

"Infelizmente, precisamos muito mais. Além da pequena capacidade para receber embarcações, os portos se ressentem da falta de silos para armazenagem de mercadorias. Perde-se muito tempo no carregamento e na descarga por falta de investimentos", afirma o presidente da seção de Transporte de Cargas da Confederação Nacional de Transporte (CNT), Flávio Benatti.

É por essa razão que o economista Fábio Giabiangi, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), não esconde seu ceticismo.

"O estado de graça acabou no fim do ano passado. Os problemas que estão aparecendo — e assustando — deverão persistir", avisa.

Qualificação

Para um país que é apontado, em todas as pesquisas, como uma das cinco maiores potências econômicas do mundo nas próximas duas décadas, o tempo é vital.

Na avaliação de Giambiagi, a situação está tão crítica que o descaso do passado, de administrações que não se preocuparam com a melhora da educação, faz agora o Brasil se deparar com um apagão da mão de obra — a falta de profissionais mais habilitados e capazes para executar as funções exigidas pelas empresas pressionadas por maior produtividade.

Para o economista, esse problema ficará mais nítido a partir de 2013, com a consolidação da situação de pleno emprego, configurada por uma taxa de desocupação próxima de 5% (hoje está em 6,4%).

Nesse momento, a ausência de trabalhadores qualificados voltará a pressionar a inflação, pois os salários tenderão a subir além do desejável e os custos arcados pelas empresas serão repassados aos consumidores.

O resultado disso poderá ser uma nova rodada de aumento dos juros pelo Banco Central e nova trava no crescimento. A previsão do mercado em geral é de que o país avance a taxas de 4% em 2011 e 2012.

Efeito cruel

O apagão da mão de obra deve causar, de imediato, um efeito cruel. A grande mobilidade social dos últimos anos, que alçou os mais pobres às classes C e D, tenderá a caminhar a passos mais lentos.

Os menos escolarizados terão dificuldade para se colocarem no mercado por causa da sofisticação do processo produtivo e das exigências dos empregadores, avalia o demógrafo Haroldo Torres, da Consultoria Plano CDE.

"Não se recupera a ausência de anos de escola da noite para o dia", acrescenta a antropóloga Luciana Aguiar.

"O fato é que o governo deveria controlar os gastos correntes para sobrar dinheiro e aumentar o investimento público. Em vez de comprar clipes, deveria construir estradas"

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco WestLB

ANA D"ANGELO Correio Braziliense

Endividamento do brasileiro é record/Juro já responde por mais da metade da dívida

O endividamento do brasileiro atingiu nível recorde.
A dívida total das famílias no cartão de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, crédito para compra de veículos e imóveis, incluindo recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), corresponde a 40% da massa anual de rendimentos do trabalho e dos benefícios pagos pela Previdência Social no País, aponta um estudo da LCA Consultores.

Se, do dia para noite, os bancos e as financeiras decidissem cobrar a dívida total das pessoas físicas, isto é, juros e o empréstimo principal, que chegou a R$ 653 bilhões em abril, cada brasileiro teria de entregar o equivalente a 4,8 meses de rendimento para zerar as pendências.

Os cálculos levam em conta a estimativa da massa de rendimentos nacional, não apenas nas seis regiões metropolitanas.

Em dezembro de 2009, a dívida das famílias estava em R$ 485 bilhões, subiu para R$ 524 bilhões em abril do ano passado e, em abril deste ano atingiu R$ 653 bilhões.

Apesar dos ganhos de renda registrados nesse período, as dívidas abocanharam uma parcela cada vez maior dos rendimentos da população.

Quase um ano e meio atrás, a dívida equivalia a 35% da renda anual ou 4,2 meses de rendimento. Em abril deste ano, subiu para 40% da renda ou 4,8 meses de rendimento.

'Houve uma forte aceleração do endividamento', afirma o economista Wermeson França, responsável pelo estudo. Ele observa que uma conjugação favorável de fatores levou à disparada do endividamento do consumidor.

O pano de fundo foi o crescimento econômico registrado no ano passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5%. Além disso, bancos e financeiras abriram as torneiras do crédito, com juros menores e prazos a perder de vista.

Dados de outro estudo intitulado 'Radiografia do Endividamento das Famílias nas Capitais Brasileiras', da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), confirmam o avanço do endividamento do consumidor.

De janeiro a maio deste ano, 64%, em média, das famílias que vivem nas 27 capitais do País tinham dívidas, ante 61% em igual período de 2010. O valor médio da dívida aumentou quase 18%, de R$ 1.298 mensais, entre janeiro e maio do ano passado, para R$ 1.527 mensais em igual período deste ano.

Depois da explosão do consumo no ano passado, Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio-SP, diz que as medidas de aperto no crédito editadas pelo do Banco Central no fim de 2010, a elevação dos juros e a redução dos prazos dos financiamentos tiveram grande influência sobre o aumento da dívidas das famílias neste início de ano.

'As vendas do comércio a partir de março apontam para uma forte desaceleração do consumo', afirma o economista, justificando que a dívida vem crescendo nos últimos meses por causa dos juros.


Cresceu neste ano a parcela dos juros no total da dívida dos brasileiros.

Em abril de 2010, a fatia dos juros correspondia a 56% de uma dívida total de R$ 524 bilhões. Em abril deste ano, o último dado disponível no Banco Central (BC), os juros equivaliam a 60% de uma dívida de R$ 653 bilhões, aponta estudo da LCA Consultores.

Com as medidas macroprudenciais do BC no fim de 2010 e a alta dos juros básicos iniciada em janeiro, a dívida total aumentou puxada neste ano pelos encargos financeiros', diz Wermeson França, economista da LCA, responsável pelo estudo.

Na sua avaliação, o avanço da parcela dos juros em detrimento do valor principal emprestado mostra uma piora na qualidade da dívida. Isto é, o brasileiro está se endividando mais, não necessariamente porque está indo às compras, mas por causa dos encargos financeiros cobrados nos empréstimos.

Cheque especial.
Outra informação, segundo o economista da LCA, que confirma que o aumento do endividamento do consumidor está sendo impulsionado pelos juros, aparece nas estatísticas do BC.

As duas únicas linhas de crédito que registraram crescimento na média diária de concessões entre dezembro de 2010 e abril deste ano foram o cheque especial e o cartão de crédito, as linhas de financiamento que têm os juros mais elevados e que normalmente são usadas de forma emergencial, isto é, para pagar outras dívidas.

Entre dezembro de 2010 e abril deste ano, a média diária real de concessões no cheque especial aumentou 6,2% e, no cartão de crédito, o acréscimo foi de 17%.

Já no caso do crédito pessoal, houve um recuo de 3,7% nas concessões nesse período, e nos veículos e aquisição de outros bens, a retração foi ainda maior, de 10,6% e de 11%, respectivamente.

Altamiro Carvalho, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), relata que os consumidores estão fazendo novos financiamentos para quitar dívidas antigas.

Tanto é que, no ano até abril, os dados de vendas da Fecomércio-SP mostram que o faturamento cresceu apenas 0,73%, sustentado pelos supermercados - cujas vendas praticamente não são influenciadas pelo crédito e que aumentaram 3,02% no período.

Nos demais segmentos, como eletrônicos, móveis e veículos, que são movidos a financiamentos, houve queda.

Risco.
O aumento do endividamento, com maior peso dos juros, pode levar a uma piora da inadimplência neste ano. 'Não vai ser nada explosivo, mas a inadimplência vai mudar de patamar', alerta França, da LCA.

Em 2010, a inadimplência do consumidor encerrou o ano em 5,7% e em abril, último dado do BC, tinha subido para 6,1%. Até dezembro, deve atingir 7,2%, prevê o economista. Ele pondera que o resultado deste ano deve ficar abaixo do de 2009, o ano do rescaldo da crise financeira, quando o calote chegou a 7,7%.

França observa, por exemplo, que apesar de o dado global do BC de abril mostrar que a inadimplência do consumidor com prestações vencidas acima de 90 dias continuar bem comportada, os índices de calote entre 15 e 90 dias de veículos e crédito pessoal superam as taxas acima de 90 dias.
'Esse é um sinal de que a inadimplência está piorando.


Estadão