"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 18, 2011

FRENÉTICA E EXTRAORDINARIAMENTE : Destaques Censo 2010 mostra que pobreza está longe de ser superada .

O Censo 2010 mostra que a pobreza está muito longe de ser superada no país. Houve avanços na última década, mas ainda faltam condições mínimas de cidadania e sobrevivência para enorme parcela da população.

Alguns números falam por si:
60,7% das famílias brasileiras têm renda per capita inferior a um salário mínimo,
16,3 milhões de indivíduos vivem na miséria extrema
e 14 milhões de pessoas não dispõem de banheiro em casa.

Em áreas como o combate ao analfabetismo, o ritmo de melhorias caiu bastante na década passada em comparação com os dez anos anteriores.

Leia aqui a íntegra do documento (arquivo em PDF).

A delegação num governo opaco : FRENÉTICA E EXTRAORDINÁRIA, MENTIRA. LERDA E VULGAR, VERDADE.


Registre-se que houve mudança no tônus deste governo em algum momento recente depois da bem sucedida estreia e primeiros dias sob o comando da presidente Dilma Rousseff e seu staff.


O estilo, discreto e firme, que marcou a diferença do tonitroante, permanente e cansativo palanque eleitoral do antecessor, já não é um bálsamo, a inquietação está de volta.

Houve, é fato também, o reconhecimento do êxito na delegação de poderes iniciais aos ministros, mas já não há segurança de que isto não se confundirá com omissão, pois já está.

Dilma está deixando o governo arder sem intervir, pelo menos até onde a vista do eleitorado alcança. Talvez marcada pelos escândalos da Casa Civil sob sua administração, quando ocorreram os casos do cartão corporativo, das interferências na Receita Federal, do desastre Erenice Guerra, seu braço direito, depois sucessora, colhida em tráfico de influência, a presidente parece não querer mais botar a mão no fogo por ninguém.
Mas não toma providências em contrário.

O ministro do Turismo, Pedro Novais, foi denunciado antes de assumir, a presidente não esboçou reação.
O ministro do Esporte, Orlando Silva, sofreu acusações graves, balançou, ficou.
A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, foi flagrada em uso irregular de verbas públicas quando se encontrava vítima de uma campanha de desestabilização movida por quem quer o seu lugar, e a presidente, entre a denúncia e o lobby, preferiu calar-se.

Agora estoura o grave novo caso Antonio Palocci, ministro que já passou por dois antecedentes complicados:
acusação de receber mensalão da máfia do lixo em Ribeirão Preto e a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Reabilitou-se e assumiu o cargo de chefe da Casa Civil da Presidência como quase um premiê.

Palocci pode nada haver praticado de irregular, ilegal e nem mesmo aético ao multiplicar 20 vezes, em apenas 4 anos, o seu patrimônio.
Mas, na posição em que está no governo não poderia recusar-se à transparência. Não explicou como conseguiu a façanha e, portanto, foi incapaz de reduzir a aura de suspeição que o cerca.

Em lugar de agir para restaurar o equilíbrio à volta da presidente, o ministro pratica a velha tática de atacar para se defender. Em nota oficial de ontem, a Casa Civil diz, essencialmente e em síntese, que economistas e parlamentares multiplicam seu dinheiro do mesmo jeito que Palocci.
Mas nada detalha.
Extraoficialmente, é pior:
procura-se o responsável pela denúncia.

No PT e no Palácio, há mais perguntas que respostas:
foi Guido Mantega, eterno rival de Antonio Palocci, o vazador dos dados?
Ou teriam sido os grupos da Receita Federal insatisfeitos com a volta à instituição, por iniciativa de Palocci, dos amigos do ex-secretário Jorge Rachid?

Enquanto se brinca de adivinhação, o ministro não explica o aumento amazônico de seu patrimônio e o governo entra em compasso de espera para ver, como sempre, até quando a imprensa consegue sustentar o assunto em debate.
Quando parar, está resolvido.

A presidente não pode ser babá de ministro, eles têm que dar conta de seus atos, justifica-se no governo. Mas foi a esses ministros que delegou a ação.
Ficando omissa diante dos desmandos do presente, não há como ficar imune no futuro.

Até porque essa delegação vem se confundindo com desatenção também em questões de conteúdo das políticas públicas. A presidente só reagiu ao recrudescimento da inflação, esclarecendo posições, quando a questão já havia se transformado em peça publicitária negativa nas campanhas da oposição.

O que pensa sobre as sucessivas catástrofes administrativas do Ministério da Educação? A do momento é a aprovação de um livro didático, comprado pelo governo para distribuição nas escolas, que considera certo escrever errado o português.

Se a presidente tem conhecimento desse carnaval fora de época no seu governo a omissão se deve a quê?
Ao descompromisso com um ministro imposto ao seu time para que o partido tenha meios de prepará-lo para as disputas eleitorais?

E o que pensa, ou faria a presidente, com relação aos impasses na votação do Código Florestal, em cuja negociação, conduzida pelo ministro Palocci, o governo só entrou no final e para confundir?
Chantageado pela ameaça de uma campanha internacional difamatória pelo desrespeito ao meio ambiente, o governo reagiu com a mesma moeda:
ameaçou vetar os artigos que não lhe agradassem, punir agricultores e deixar os aliados que contrariassem sua orientação (qual?) à míngua.

Na verdade, o governo temeu ficar sem um novo balcão de poder, contido no texto, que lhe permite executar boa parte da política agrícola por decreto.
Há muita gente atônita, inclusive no Judiciário, com a ampliação de poderes do Executivo nesse e em muitos outros campos.

Os primeiros acordes dos projetos da reforma tributária em formulação no Ministério da Fazenda, os embates para suprimir os controles do Tribunal de Contas da União, o corte das amarras da lei de licitações para brincar e bordar com os recursos da Copa do Mundo são faces da mesma moeda:
governar por medida provisória, decreto, resolução, portaria, tudo o que permita fugir de outros poderes e instâncias.


A presidente sabe que o afrouxamento da Lei de Licitações está sendo feito por um reles contrabando em uma MP que trata das atividades de médico residente?

Ela não aparece nas negociações, não fala com líderes envolvidos nas votações, não diz o que quer. Seus delegados, porém, estão energizados e sabotando até audiência pública:
o Palácio acaba de conseguir cancelar um debate sobre a Reserva Global de Reversão (RGR), encargo da conta de luz, que estava marcado em comissão da Câmara a pedido de um grupo de empresários liderados por Jorge Gerdau.

O governo Dilma quer controlar, legislar, mandar, decidir.
Sem transparência.
É um governo em processo de redefinição, para pior.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

NO FIO DA NAVALHA : BC vê perigo em dívida no exterior .

As crescentes dívidas de empresas brasileiras no exterior acenderam o sinal de alerta para a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff. Com medo de que o dólar saia de sua tendência de baixa e se valorize repentinamente, sem que haja tempo hábil para que essas companhias se reposicionem no mercado e minimizem perdas, o governo começa a fazer um trabalho de convencimento entre os empresários.

Quer, com isso, impedir uma disseminação de prejuízos pela economia. Na crise financeira de 2008, quando o dólar saiu de R$ 1,56 em agosto para R$ 2,50 no início de dezembro, Aracruz Celulose, Sadia e algumas outras firmas amargaram rombo de US$ 10 bilhões por estarem altamente expostas à divisa norte-americana — na época, somavam dívidas de US$ 38 bilhões e não usavam nenhum mecanismo de proteção.

A preocupação do governo tem se elevado porque, da crise de 2008 para cá, o endividamento de companhias no exterior avançou 45,6% e chegou a US$ 89,6 bilhões.
Pelo menos até agora, manter débitos dolarizados tem se mostrado um bom negócio, principalmente se a empresa tem sede em países emergentes, nos quais o forte fluxo de recursos faz as moedas locais se valorizarem.


É preciso cuidado, o governo não regula empresa nesse aspecto. O que se faz, nesse caso, é alertar e lembrar as pessoas que a economia não é uma linha reta”, disse um técnico graduado da equipe econômica.


No Brasil, a tendência de queda do dólar deve prevalecer ou pelo menos se manter estável. Com a elevação da taxa básica de juros (Selic) para 12% ao ano em abril, voltou a ficar interessante trazer dinheiro para o país, converter em reais e aplicar em renda fixa, mesmo com a cobrança de 6% titulada de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

A dinâmica é simples, quanto mais dinheiro vem para o Brasil, mais o real se fortalece e mais a dívida feita lá fora encolhe.
As empresas ganham tanto com os juros
altíssimos no país quanto com a desvalorização do dólar.

A Petrobras, por exemplo, obteve no primeiro trimestre do ano, ganho adicional de R$ 2 bilhões apenas porque 80% dos seus débitos são em moeda estrangeira, principalmente em dólar.


Proteção
Os bancos também estão fazendo a festa no exterior.
Apenas de dezembro do ano passado a março de 2011, as dívidas do setor aumentaram 18,2%, ao chegar a US$ 121,9 bilhões — o equivalente a quase 30% do patrimônio liquido de todas as instituições financeiras do país juntas.

A situação só não é tão preocupante quanto a das empresas, porque os bancos são obrigados a fazer operações de proteção para não ficarem expostos às oscilações de divisas estrangeiras.
“No caso dos bancos, a exposição cambial é pequena. Se houver mudança cambial, não perdem nem ganham”, disse o técnico do governo.


Ele destacou que, neste momento, o Brasil vive um cenário ambíguo e o Banco Central e o Ministério da Fazenda não querem esperar um lado prevalecer, sobretudo diante da queda de 10% registrada pelas commodities (produtos básicos com preços internacionais) em pouco mais de 20 dias.
Os preços dessas mercadorias estão diretamente ligados è liquidez da economia (quantidade de dinheiro em circulação) e à valorização ou depreciação do real.


Controle de capitais divide o governo
Com o elevado endividamento em dólar do setor privado brasileiro e a entrada expressiva de dólares no país, o governo estuda adotar mais medidas para segurar a cotação da divisa norte-americana.

Algumas alas da equipe econômica começam a defender, no limite, um controle mais severo de capitais, com a obrigatoriedade de permanência dos recursos algum tempo em território nacional.

De um lado, o Banco Central resiste à ideia da quarentena e tenta apresentar outras soluções para conter a valorização do real.

Do outro, o Ministério da Fazenda, em contatos com investidores, afirma que a iniciativa pode ser adotada a qualquer momento.
A dúvida dos analistas é se o ministro Guido Mantega quer comandar o mercado “no gogó” ou se a ameaça é real.

Victor Martins Correio Braziliense

PARA O BRASIL CONTINUAR MUDANDO. EVOLUÇÃO DA CARROÇA GOVERNAMENTAL MAMBEMBE DESEMBESTADA : Brasil despenca em ranking de competitividade.


O Brasil despencou seis posições no ranking do Índice de Competitividade Mundial 2011, apurado pelo International Institute for Management Development (IMD) em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC). A redução na produtividade e na eficiência empresarial e o aumento do custo de vida foram os principais responsáveis pela queda do país do 38º para o 44º lugar na lista de 59 países avaliados no estudo.

Com o resultado, o Brasil rompe um histórico de crescimento que começou em 2007.
No ano passado, o país havia subido duas posições.
No estudo, que aponta Hong Kong e Estados Unidos com índice máximo de 100,
o Brasil aparece com 61,043 pontos,
abaixo de Peru (62,651)
e México (64,025).


Para o professor da FDC Carlos Arruda, responsável pela captação e pela avaliação dos dados brasileiros, a perda de 12 posições no quesito "preços" e de 21 no fator "produtividade e eficiência" são sinais de alerta para a economia nacional.

- A continuidade do crescimento do país vai depender do comportamento da economia brasileira frente aos desafios do câmbio, do crédito, dos ativos e da produção - avalia Arruda.

Lino Rodrigues O Globo -