"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 30, 2011

INTERESSE PÚBLICO : HORA DO "EXPEDIENTE" ! CHEGOU A VEZ DO CONSUMIDOR?

Na pauta da Câmara dos Deputados há mais de 10 anos, a proposta de fim da cobrança da tarifa de assinatura básica deve entrar em votação ainda neste ano.

A informação foi prestada pelo presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, deputado Roberto Santiago (PV-SP). Segundo ele, o retorno da matéria à pauta foi aprovado pela liderança governista.


A intenção do governo é de, pelo menos, diminuir o valor dessa tarifa, considerada abusiva por especialistas em direito do consumidor.
Um movimento que comprova essa intenção é a implantação de telefone fixo para famílias de baixa renda, por R$ 9,50 mensais.


Atualmente, 180 mil assinantes possuem esse serviço, mas ele será expandido para 13 milhões de famílias, todas atendidas pelo Bolsa Família.
Para isso acontecer, basta a assinatura da presidente Dilma Rousseff.
A expectativa é que isso aconteça na próxima semana.


Criada para arrecadar recursos que seriam transformados em investimentos no setor, a tarifa básica (que custa, em média, R$ 46 mensais) incomoda usuários que pagam as contas em dia e não veem retorno desse dinheiro.

Em recente audiência pública na Câmara entre representantes da Anatel e da comissão, a agência fiscalizadora não conseguiu satisfazer os questionamentos dos deputados.

Correio Braziliense

DE NOVO A EXPECTATIVA E A REALIDADE, O CERTO E O ERRADO, A MENTIRA E A VERDADE : Contradições do Banco Central

Discursos e números deixaram de combinar no Banco Central. Durante divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, garantiu que a carestia convergirá para o centro da meta (4,5%) em 2012 e pintou um céu com poucas nuvens para a economia.

Entretanto, todas as expectativas, inclusive as da própria autoridade monetária, mostravam o contrário.


As projeções do BC para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2011 avançaram de 5,6% para 5,8% e, para o ano que vem, passaram de 4,5% para 4,8%um claro recado, na visão do mercado, de que mais ajustes na taxa básica de juros (Selic) se farão necessários.

Hamilton ainda garantiu — apesar de classificar o cenário externo como muito incerto e de afirmar que a aversão ao risco se elevou — que há "mais chance de a inflação melhorar do que de piorar".
Já o relatório de inflação, na página 89, diz o contrário.


O trecho informa que a probabilidade de a carestia estourar os 6,5% definidos como o teto da meta cresceu.
Enquanto em março era de 20% para 2011 e de 13% para 2012, no documento de junho houve um avanço para 22% neste ano e para 14% no próximo.


"Realmente, parece estranho ele ter melhorado a perspectiva e piorado a projeção", ponderou Caio Megale, economista do Itaú Unibanco.


"A questão é que o BC implementou uma série de ações de política monetária e, no entanto, as projeções pioraram. Isso significa que ele não obteve a resposta que deseja e que terá de apertar mais", argumentou Megale.

Ele explicou ainda que, em dezembro, antes das medidas macroprudenciais e dos ajustes na taxa de juros básica da economia (Selic), a previsão do BC era de 5% para a inflação em 2011 e de 4,8% para 2012.

Passados seis meses, algumas medidas prudenciais e uma elevação de 1,50 ponto percentual na taxa básica, o cenário para o próximo ano não se mexeu e o deste piorou em 0,8 ponto percentual.

Ainda assim, Hamilton garantiu que a política monetária surtiu efeito e que esse impacto se fará ainda mais forte no segundo semestre do ano.

Victor Martins Correio Braziliense

junho 29, 2011

Justiça apreende documentos do Carrefour a pedido do Casino

O varejista Casino conseguiu que a justiça francesa apreendesse documentos que revelam conversas entre seu concorrente Carrefour e o empresário Abilio Diniz sobre uma possível fusão no Brasil.

O material está em poder da corte de Nanterre, na França.
Esse é o último episódio de uma disputa entre a rede Casino, que detém 37% do capital do Grupo Pão de Açúcar, e seu sócio local, o empresário Abilio Diniz.

A apreensão de documentos é um procedimento de preservação de provas.
O material pode ser requisitado, por exemplo, pela Câmara de Comércio Internacional.
No início do junho, o Casino entrou com um pedido de arbitragem perante a câmara para que Abilio passasse a "cumprir todas suas obrigações conforme acordo de acionistas".

Segundo informou a agência Reuters, o Casino protocolou, no início do mês, um pedido para que a justiça buscasse, nos escritórios do Carrefour, documentos que demonstrassem "a existência e o conteúdo de negociações" entre o rival francês e Abilio.

De um total de 150 documentos avaliados, 22 demonstram que havia uma discussão em curso entre Abilio Diniz, ou sua assessoria financeira Estáter, e o Carrefour. Não se sabe quais foram os termos da conversa.
O material apreendido, conforme o Estado apurou, é composto basicamente por e-mails.

O Casino ficou sabendo pela imprensa, há cerca de um mês, sobre as conversas entre o empresário brasileiro e o Carrefour para articular uma aliança no Brasil.
Diante da notícia, o presidente e acionista do Casino, Jean-Charles Naouri, enviou um e-mail para Abilio.

A mensagem de resposta confirmava negociações preliminares e dizia que não havia nada mais a ser informado no momento. Naouri também mandou um e-mail a Lars Olofsson, presidente mundial do Carrefour, mas não recebeu resposta.

Hostil.
O clima hostil fez com que o Casino entrasse com o pedido de arbitragem.
Na prática, tratava-se de era uma advertência pública ao sócio.
Na semana passada, a rede francesa enviou mais um sinal:
aumentou em 3.3% sua participação no Grupo Pão de Açúcar com um investimento de US$ 363 milhões.
Por trás do conflito está o acordo de acionistas firmando entre Casino e Abilio em 2006.

Há um ano, o empresário brasileiro tenta, sem sucesso, revertê-lo.
Pelos termos do documento, em junho de 2012, o Casino pode exercer uma opção de compra e passar a deter o controle do grupo.
Hoje, o controle é compartilhado entre Abilio e o Casino.

Para pessoas próximas, o motivo do descontentamento de Abilio reside no fato de que ele não quer perder o controle de uma empresa que mudou de patamar.
Nos últimos dois anos, o Pão de Açúcar comprou a cadeia de eletroeletrônicos Ponto Frio e fechou uma fusão com a Casas Bahia tornando-se, assim, o maior varejista do País.

O Carrefour, por sua vez, veio à público, nesta semana, para dizer que vai manter o controle de suas operações no Brasil.
O presidente mundial, Lars Olofsson, classificou as notícias sobre a negociação da subsidiária brasileira como "rumores".
Ele não descartou, porém, o que classificou como "oportunidades de crescimento".

Essa não é a primeira vez que notícias sobre a negociação da operação brasileira do Carrefour tomam o mercado. No fim de 2009, sob a pressão de investidores, a rede chegou a conversar com o Walmart.

Mas a proposta feita pela americana foi considerada muito baixa na época. Foi então que a rede francesa deu início a um processo de reestruturação, ainda em andamento.

- Por Melina Costa, de O Estado de S. Paulo -

Lucro Brasil faz o consumidor pagar o carro mais caro do mundo


O Brasil tem o carro mais caro do mundo.
Por quê?
Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção.

Outro vilão seria o “alto valor da mão de obra”, mas os fabricantes não revelam quanto os salários – e os benefícios sociais - representam no preço final do carro.
Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei.

*********

- Por Joel Silveira Leite, do blog Mundo em Movimento -

A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas as histórias que você verá a seguir vão mostrar que o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor.

A indústria culpa também o que chama de Terceira Folha pelo aumento do custo de produção:
gastos com funcionários, que deveriam ser papel do estado, mas que as empresas acabam tendo que assumir, como condução, assistência médica e outros benefícios trabalhistas.
Só a Mercedes-Benz tem uma frota de três mil ônibus para transportar funcionários.

Com um mercado interno de um milhão de unidades em 1978, as fábricas argumentavam que seria impossível produzir um carro barato.
Era preciso aumentar a escala de produção para, assim, baratear os custos dos fornecedores e chegar a um preço final no nível dos demais países produtores.

Pois bem:
o Brasil fechou 2010 como o quinto maior produtor de veículos do mundo e como o quarto maior mercado consumidor, com 3,5 milhões de unidades vendidas no mercado interno e uma produção de 3,638 milhões de unidades.

Três milhões e meio de carros não seria um volume suficiente para baratear o produto? Quanto será preciso produzir para que o consumidor brasileiro possa comprar um carro com preço equivalente ao dos demais países?

Segundo Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, “é verdade que a produção aumentou, mas agora ela está distribuída em mais de 20 empresas, de modo que a escala continua baixa”.
Ele elegeu um novo patamar para que o volume possa propiciar uma redução do preço final: cinco milhões de carros.

A carga tributária caiu e o preço do carro subiu
O imposto, o eterno vilão, caiu nos últimos anos.
Em 1997, o carro 1.0 pagava 26,2% de impostos, o carro com motor até 100cv recolhia 34,8% (gasolina) e 32,5% (álcool).
Para motores mais potentes o imposto era de 36,9% para gasolina e 34,8% a álcool.

Hoje – com os critérios alterados – o carro 1.0 recolhe 27,1%,
a faixa de 1.0 a 2.0 paga 30,4% para motor a gasolina
e 29,2% para motor a álcool.
E na faixa superior, acima de 2.0, o imposto é de 36,4% para carro a gasolina
e 33,8% a álcool.

Quer dizer:
o carro popular teve um acréscimo de 0,9 ponto percentual na carga tributária, enquanto nas demais categorias o imposto diminuiu:
o carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos.
O imposto da versão álcool/flex caiu de 32,5% para 29,2%.
No segmento de luxo, o imposto também caiu: 0,5 ponto no carro e gasolina (de 36.9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.

Enquanto a carga tributária total do País, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cresceu de 30,03% no ano 2000 para 35,04% em 2010, o imposto sobre veículo não acompanhou esse aumento.

Isso sem contar as ações do governo, que baixaram o IPI (retirou, no caso dos carros 1.0) durante a crise econômica.
A política de incentivos durou de dezembro de 2008 a abril de 2010, reduzindo o preço do carro em mais de 5% sem que esse benefício fosse totalmente repassado para o consumidor.

As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora-de-estrada.

Derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva.

A margem de lucro é três vezes maior que em outros países

O Banco Morgan concluiu que esses carros são altamente lucrativos, têm uma margem muito maior do que a dos carros dos quais são derivados.
Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam:
Fox e Palio Weekend.
Mas são vendidos por 10% a 15% a mais.

O Palio Adventure (que tem motor 1.8 e sistema locker), custa R$ 52,5 mil e a versão normal R$ 40,9 mil (motor 1.4), uma diferença de 28,5%.
No caso do Doblò (que tem a mesma configuração), a versão Adventure custa 9,3% a mais.

O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países.

O Honda City é um bom exemplo do que ocorre com o preço do carro no Brasil. Fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo, ele é vendido no México por R$ 25,8 mil (versão LX). Neste preço está incluído o frete, de R$ 3,5 mil, e a margem de lucro da revenda, em torno de R$ 2 mil.
Restam, portanto R$ 20,3 mil.

Adicionando os custos de impostos e distribuição aos R$ 20,3 mil, teremos R$ 16.413,32 de carga tributária (de 29,2%) e R$ 3.979,66 de margem de lucro das concessionárias (10%).

A soma dá R$ 40.692,00.
Considerando que nos R$ 20,3 mil faturados para o México a montadora já tem a sua margem de lucro, o “Lucro Brasil” (adicional) é de R$ 15.518,00:
R$ 56.210,00 (preço vendido no Brasil) menos R$ 40.692,00.

Isso sem considerar que o carro que vai para o México tem mais equipamentos de série: freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos.
O motor é o mesmo: 1.5 de 116cv.

Será possível que a montadora tenha um lucro adicional de R$ 15,5 mil num carro desses?
O que a Honda fala sobre isso?
Nada.
Consultada, a montadora apenas diz que a empresa “não fala sobre o assunto”.

Na Argentina, a versão básica, a LX com câmbio manual, airbag duplo e rodas de liga leve de 15 polegadas, custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), segundo o Auto Blog.

Já o Hyundai ix35 é vendido na Argentina com o nome de Novo Tucson 2011 por R$ 56 mil, 37% a menos do que o consumidor brasileiro paga por ele: R$ 88 mil.

Mais :

Por que o carro é mais barato na Argentina e no Chile?

BNDE$ E AS TREVAS DE SEUS "CAMPEÕE$ NACIONAI$"


O dinheiro público vai servir, mais uma vez, para irrigar cofres privados. Em sua estratégia de eleger "campeões nacionais", o BNDES colocará até R$ 4,5 bilhões na megafusão das operações do Pão de Açúcar com a parte brasileira do Carrefour, anunciada ontem.
Como sempre, ficará para o cidadão brasileiro pagar a conta.


Se prosperar, a transação resultará na criação de uma empresa que dominará 32% do setor de supermercados e 27% do varejo nacional.
Será, portanto, uma gigante sem concorrentes à altura.
Terá poder suficiente para esfolar consumidores, fornecedores e funcionários.


Percentuais acima de 20% de concentração de mercado indicam a existência de potencial anticompetitivo, de acordo com padrões usados pelo Cade.
Quanto maior a concentração do setor, menor a competição por preços.
Não há, portanto, ganhos à vista para os consumidores brasileiros.

"Em um país que quer desesperadamente controlar sua inflação, qual o sentido de reduzir ainda mais a competição empresarial?
Por que um banco público deveria apoiar uma operação problemática em termos antitruste?
Não seria preciso atentar para o bem-estar do consumidor?", critica Sérgio Lazzarini, professor do Insper, no
Estadão.

Pelo desenho conhecido, a BNDESPar ficará com 18% do capital da nova empresa, a NPA. A justificativa oficial do banco - em parca nota divulgada ontem - é permitir a "internacionalização do Pão de Açúcar, (...) abrindo caminho para maior inserção de produtos brasileiros no mercado internacional". A NPA teria 11,7% do capital da matriz francesa do Carrefour.

Extraoficialmente, porém, porta-vozes do BNDES justificam mais este aporte-monstro pela necessidade de garantir que o varejo supermercadista no Brasil não seja dominado por estrangeiros. Esta visão fia-se no temor de que, em vez do Pão de Açúcar, o Walmart venha a abocanhar o Carrefour e os franceses da Casino assumam a rede brasileira, conforme acordado em negociação feita no passado.

O Valor Econômico desnuda, porém, a tolice do discurso nacionalista do governo:
ao final da engenharia financeira montada agora e conhecida ontem, os franceses (Carrefour mais Casino) deterão 65% do capital da empresa operacional constituída com o dinheiro do BNDES.

Nada de empresa verde-e-amarela, portanto.


A desculpa de formar "campeões nacionais" é sempre assacada pelo BNDES para justificar sua política de auxílio a grandes conglomerados capitalistas-mas-nem-tanto.
Foi assim na composição do JBS-Friboi, na Oi-Brasil Telecom, na VCP-Aracruz, na Sadia-Perdigão.
Mas alguém é capaz de apontar algum benefício para a sociedade decorrente da criação destas megacorporações?


Pelo contrário, no caso da empresa de carnes o que se viu foi quebradeira de empresas frigoríficas menores espalhadas pelo interior do país.
Já a megaempresa de comunicação resiste a oferecer serviços mais baratos de celular ou internet.


Ao contrário das grandes, empresas pequenas e médias não têm obtido guarida no BNDES.
De janeiro a abril deste ano, grandes companhias ficaram com 55% do valor desembolsado em financiamentos pelo banco oficial de fomento.
Esse dinheiro foi concentrado em apenas 6% das operações.


Nos últimos anos, o Tesouro já se endividou em R$ 260 bilhões - incluindo R$ 30 bilhões neste ano - para financiar o BNDES nas suas operações. Na maior parte destes negócios, o BNDES enterrou dinheiro público em buracos sem fundo, sempre em volumes cavalares. Poderá ser assim também no Pão de Açúcar-Carrefour.

No fim do ano passado, a matriz da rede francesa descobriu um rombo de R$ 1,2 bilhão na filial brasileira, e desde então enfrenta pressão dos acionistas para se desfazer do negócio no Brasil.

Pelo jeito, os franceses acabam de achar um alegre interessado disposto a levar o mico para casa.


Por que o dinheiro público, coletado dos impostos, deve ser utilizado para financiar fusões de interesse privado?
Quando uma empresa subsidiada pelo BNDES quebra, quem fica com a conta são os consumidores.
É o socialismo invertido: o lucro é privatizado e os prejuízos são socializados", escreve Diogo Costa, professor do Ibmec, na
Folha de S.Paulo.

O governo do PT terá dificuldade para justificar mais esta parceria regada a farto dinheiro público em prol de largos benefícios privados.
Uma coisa é certa:
a sociedade brasileira não tem nada a ganhar com mais este meganegócio.
Exige, pelo menos, não ser chamada a pagar a conta
.

Fonte: ITV

Grampo indica lobby no Planalto por empresa chinesa



Interceptações telefônicas flagraram Dr. Hélio (PDT), prefeito de Campinas (SP), pleiteando a intermediação do publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas presidenciais do PT de 2006 e 2010, para fazer lobby com a presidente Dilma Rousseff em favor da Huawei - gigante chinesa que atua na área de tecnologia 3G, banda larga fixa e móvel e de infraestrutura de redes para operadoras de telefonia.

"Faz dois anos que venho tratando com os chineses da Huawei", conta Dr. Hélio, em ligação do dia 2 de abril, iniciada às 9h30.
"É a empresa que mais contribui, das estrangeiras, com ISS aqui pra Campinas. Eles têm um showroom lá e me convidaram pra eu tá lá pra eles anunciarem esse investimento de US$ 350 milhões aqui no Brasil, né (sic)."


Na ocasião, Dilma se preparava para uma viagem à China, a primeira missão oficial de negócios desde que assumiu a Presidência. Ela e sua comitiva embarcaram dia 8. Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio, e a mulher, Rosely Nassim - a quem o Ministério Público Estadual atribui o papel de chefe de quadrilha para fraudes em licitações e desvio de recursos públicos -, também foram a Pequim e lá se integraram à comitiva.

Na conversa com o prefeito, que durou oito minutos, Santana promete empenho e sugere:
"E se puser o showroom no próprio hotel que ela (Dilma) vai ficar? Deixa eu primeiro fazer essa consulta que na segunda eu devo encontrar com ela. Segunda ou terça, daí eu falo diretamente com ela pra ver."


Já em Pequim, Dilma encontrou-se com Ren Zhengfei, executivo principal da Huawei. No primeiro dia da visita da presidente Dilma à China, a empresa Huawei anunciou o investimento de US$ 300 milhões na construção de um centro de pesquisa em tecnologia em Campinas.

Justificativas

O Palácio do Planalto confirmou encontro da presidente Dilma Rousseff (PT) com a Huawei.
"A audiência da presidenta Dilma Rousseff com representantes da Huawei, durante sua viagem à China em abril, foi motivada pela relevância da companhia no setor de tecnologia e pelo interesse de ampliação dos seus investimentos no Brasil", destacou a Secretaria de Imprensa.


Segundo a secretaria "a solicitação da audiência foi feita pela empresa por intermédio da Prefeitura de Campinas, onde a Hauwei tem planta industrial e tinha à época planos de ampliação de suas atividades".

O Planalto não se manifestou acerca de gestões do publicitário João Santana com a Presidência. Procurado, Santana não respondeu às ligações da reportagem.

A Huawei do Brasil informou que é a maior arrecadadora de ISS de Campinas e "mantém relações cordiais com a prefeitura".
"Em função da visita à China e com objetivo de anunciar o incremento de investimentos na região, a empresa enviou um pedido formal para a Prefeitura de Campinas mostrando interesse na visita programada."


Por intermédio da assessoria de imprensa, a Huawei anotou que "enquanto o governo organizava a agenda da presidenta, a Huawei do Brasil enviou um pedido para uma reunião".
"Por conta dos planos de investimento da Huawei no Brasil, a empresa também havia sugerido a presença da presidenta Dilma na assinatura formal do anúncio de investimentos."


O advogado Eduardo Carnelós, que defende Dr. Hélio, foi taxativo.
"Me causa surpresa o grampo porque o Ministério Público assegurou que não investigou o prefeito. Ainda que a interceptação tivesse sido obtida de forma legal, sua divulgação é crime."


AE/As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

junho 28, 2011

NÃO É PIABA NÃO : O MAPA DA BARGANHA. TUDO "PELO POVO", DELES.


Quase 200 cargos em órgãos federais são a recompensa exigida pela base aliada para continuar a apoiar o governo no Congresso

Sobre a mesa da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, ocupa lugar de destaque uma lista com 184 indicações para cargos de segundo escalão do governo. Esse é o loteamento exigido pelas legendas governistas, que querem ver as nomeações publicadas no "Diário Oficial" o mais breve possível.

Além da acomodação em postos estratégicos, a fatura cobrada pelos parlamentares inclui o empenho de R$ 3 bilhões em emendas do Orçamento de 2011 e a liberação de R$ 1 bilhão de anos anteriores.
Do contrário, ameaçam endurecer o jogo para o governo no Congresso.


As declarações da ministra Ideli, na terça-feira 21, de que haverá "frustrações" nos partidos no processo de preenchimento de vagas foram pessimamente recebidas pelas lideranças na Câmara e no Senado.

Os cargos e as emendas representam o capital eleitoral dos deputados junto a prefeitos e vereadores às vésperas das eleições municipais.
Daí a pressa.


Os aliados insistem que, se não forem atendidos, matérias de interesse do governo, como os destaques apresentados à Medida Provisória que trata das regras especiais de licitação para a Copa, não tramitarão no Legislativo ao sabor das conveniências do Palácio do Planalto.

"O PMDB não vai abrir mão do direito de indicar", afirma o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).


Apesar de a pecha do fisiologismo ficar sempre com o PMDB, a lista de demandas do PT corresponde a 60% do total, ou 110 cargos.
Na lista de pleitos mais recentes do partido encontra-se a indicação de Elcione Diniz para a diretoria de administração e finanças da Transurb, da lavra do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do ex-ministro José Dirceu.

Já os diretórios do PT da Bahia, Ceará e Piauí querem emplacar nomes em seis diretorias do Banco do Nordeste:
de negócios (Paulo Sérgio Rebouças),
financeira (Oswaldo Serrano),
de gestão (José Sydrião),
administrativa (José Alan Teixeira),
tecnologia da informação (Stélio Gama)
e de controle (Luiz Carlos Farias).

Além disso, a pedido do PT, só na semana passada foram criadas 11 novas diretorias da Caixa Econômica Federal.
As vagas serão preenchidas com a supervisão do ministro da Fazenda, Guido Mantega.


"Também queremos indicar nomes nos Estados", disse à ISTOÉ o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. A lista dos comunistas é bem mais modesta do que a do PT e perfaz seis nomes.


O PMDB sonha com mais 48 cargos no segundo e terceiro escalões.
Na semana passada o partido deu prazo de 20 dias para a ministra Ideli Salvatti atender seus pleitos.

Desde o início do ano, seis nomes do partido já foram contemplados.

No vale-tudo por cargos no governo, o rosário de reclamações é desfiado também por dirigentes do PTB, PP e até do PDT.
"Estamos há cinco meses pedindo e até agora nada. A demora está grande demais. E o que nós queremos é muito pouco", desabafou à ISTOÉ o líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz (PA).

Os senadores do PTB Armando Monteiro (PE) e Mozarildo Cavalcanti (RR) são outros par­lamentares que aguardam com ansiedade o aval do Planalto para suas indicações.

Na cúpula do PP, os objetos de desejo são quatro postos.
A presidência do Denatran para o ex-deputado Inaldo Leitão (PB), uma indicação do senador Ciro Nogueira (PI),
um assento no Conselho Público Olímpico para Magda Oliveira Cardoso, apadrinhada pelos deputados Nelson Meurer (PR) e João Leão (BA),
uma vaga no Departamento de Água e Esgotos para Johnny Ferreira dos Santos
e uma diretoria da BR Distribuidora para Paulo Roberto Costa.

Esse último cargo, os progressistas disputam palmo a palmo com o PR.
Enquanto a presidente Dilma diz a interlocutores que não vai aceitar negociar com "faca no pescoço", a ministra Ideli admite ceder em alguns pontos.

Mas, depois de lidar com os bagrinhos do Ministério da Pesca, ela ainda não sabe como vai conseguir domar os tubarões cada vez mais famintos do Congresso.

Sérgio Pardellas Isto é

A REALIDADE E A EXPECTATIVA ! SEM "MARQUETING"II : País é um dos mais desiguais do mundo .


Apesar de notável, a redução das desigualdades sociais e o aumento do número de pessoas incorporadas ao mercado de consumo, o País ainda está longe de uma situação ideal.

Pelo índice de Gini, a medida mais usada para avaliar a concentração de renda e que varia de 0 a 1, o Brasil evolui da marca de 0,6 em 2001 para 0,53 no ano passado.

Embora seja uma queda considerável, o número atual ainda reflete um dos países mais desiguais do mundo. Entre os integrantes dos Brics, ficamos atrás da China, Índia e Rússia.


Ontem, ao falar sobre as mudanças e saltos econômicos que o Brasil vem festejando
, o pesquisador Marcelo Neri, da FGV, também observou que não se pode esquecer do contexto em que eles se inserem:

"Nosso atraso é enorme. Fomos um dos últimos países do mundo a acabar com a escravidão. Por isso as mudanças que ocorrem aqui têm um efeito muito forte. Por outro lado, também é preciso observar o quadro geral de mudanças da América Latina: entre 2000 e 2007 houve redução de desigualdades em 13 de 17 países do continente."


O pesquisador também observou que a evolução da classe média registrada no Brasil nos últimos anos não tem um grande pai ou grande responsável. Para ele, a classe média emergente é filha dela mesma.
(...)
Em sua exposição, o economista-chefe do CPS da FGV também deu destaque a uma pesquisa realizada em 144 países pelo Instituto Gallup sobre as expectativas das populações em relação ao futuro.

Ela mostrou que nenhum outro povo está mais esperançoso no momento em relação ao que vai acontecer daqui a cinco anos do que o brasileiro.


Nas suas conclusões, o levantamento da FGV também aponta para a necessidade de se manter as medidas que garantiram o atual ciclo virtuoso de crescimento e de redução das desigualdades.


"O controle da inflação é fundamental nesse processo, assim como a estabilidade democrática."


O trabalho menciona a necessidade de condições mais favoráveis para a criação de empregos formais, maiores investimentos na melhoria da qualidade de ensino e volumes maiores de crédito para pequenos empresários.


"Nos últimos anos demos os pobres ao mercado, agora é preciso dar o mercado aos pobres", observou o pesquisador.

Roldão Arruda O Estado de S. Paulo

junho 27, 2011

DÉFICIT EXTERNO DOBRA EM MAIO.



O déficit em transações correntes do Brasil dobrou em maio frente ao ano anterior e alcançou 4,10 bilhões de dólares, valor recorde para o mês, refletindo uma elevação dos gastos de brasileiros em viagens internacionais e crescimento das remessas ao exterior de lucros e dividendos.

O investimento estrangeiro direto, por outro lado, apesar de não ter sido suficiente para financiar sozinho o déficit em conta corrente, voltou a surpreender positivamente o Banco Central e foi recorde para meses de maio, em 3,97 bilhões de dólares.

Para 2011, o BC manteve a projeção de déficit em conta corrente de 60 bilhões de dólares, mas fez ajustes na composição dessa saldo.
Para o IED, o prognóstico também ficou estável, em 55 bilhões de dólares
.


O saldo negativo de maio, divulgado nesta segunda-feira, ficou um pouco acima do esperado por analistas, de um déficit de 3,8 bilhões de dólares.
Em igual período do ano passado, o déficit havia sido de 2 bilhões de dólares.


No mês, as remessas de lucros e dividendos por empresas multinacionais aumentaram para 4,189 bilhões de dólares, ante 2,880 bilhões de dólares há um ano, movimento que o BC atribuiu à elevação do estoque de investimentos no país e ao crescimento da economia doméstica.

O gasto com viagens internacionais também seguiu em alta, apesar do aumento da taxação sobre despesas internacionais com cartão de crédito promovido pelo governo com validade a partir do final de abril. No mês passado, a conta viagens ficou negativa em 1,120 bilhão de dólares, valor recorde para o mês, com as despesas dos brasileiros somando 1,664 bilhão de dólares, valor também recorde.

Despesas com a contratação de outros serviços internacionais, como seguros e aluguel de equipamentos e computação, também cresceram, contribuindo para alimentar o déficit.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, ponderou que, na comparação com abril, houve uma desaceleração do crescimento dos gastos com cartão frente ao mesmo mês do ano anterior, de 54 por cento para 34 por cento.

'É uma primeira observação, ainda é preciso esperar para avaliar a tendência, mas houve desaceleração', afirmou.

PROJEÇÕES

Os investimentos de estrangeiros em ações no país mostraram certa recuperação no mês passado, somando 1,707 bilhão de dólares em entradas líquidas, frente a uma saída líquida de 3,349 bilhões de dólares dessas aplicações no mesmo mês do ano passado.
Dados preliminares de junho, no entanto, já mostram uma piora do fluxo, com saída de 1,143 bilhão de dólares.


'Os ingressos para ações têm sido relativamente baixos este ano. Isso reflete um momento de maior incerteza internacional, maior cautela dos investidores. É algo que vem ocorrendo em várias bolsas, não só no Brasil', afirmou Maciel.

Para o ano, o BC reduziu suas projeção para investimento em
papéis domésticos e ações de 15 bilhões para 7 bilhões de dólares principalmente por conta da retração já observada nas aplicações em ações.

A autoridade monetária também reduziu seu prognóstico para as captações de curto prazo de 27 bilhões para 5,5 bilhões de dólares. Neste caso, a alteração é um reflexo da taxação imposta, no final de março e início de abril, aos empréstimos obtidos no exterior com prazo de até 720 dias.

A estimativa para os desembolsos de longo prazo, por outro lado, foi ampliada de 49,8 bilhões para 71,9 bilhões de dólares acompanhando um movimento já observado de alongamento dos empréstimos após a medida.

A nova estimativa do BC é que a balança comercial feche o ano com superávit de 20 bilhões de dólares, ante projeção anterior de 15 bilhões de dólares. A revisão levou em conta a melhora dos dados comerciais nos primeiros cinco meses do ano, provocada principalmente pela alta dos preços das commodities.

Os prognósticos para as remessas de lucros e dividendos e de gastos com viagens, por outro lado, aumentaram, de 34 bilhões de dólares e 12 bilhões de dólares, respectivamente, para 37 bilhões e 15 bilhões de dólares.

Para junho, o BC previu um déficit em transações correntes de 4,2 bilhões de dólares e IED de 4,5 bilhões de dólares. Nos 12 meses até maio, o déficit em conta corrente correspondeu a 2,29 por cento do PIB.

(Reuters)

$EM "MARQUETINGUE" O VERDADEIRO BRAsIL DO (P)artido (T)orpe.

Apesar das conquistas dos últimos anos, país mantém olhos fechados para problemas cruciais, como a enorme carga tributária e a infraestrutura deficiente, que podem inibir o crescimento

No topo das preferências dos grandes investidores estrangeiros, o Brasil das oportunidades está escancarando problemas que reluta em enfrentar. O crescimento da economia, a redução das desigualdades e a melhora do padrão de vida da população vêm trombando com um país cheio de gargalos, que todos veem, mas poucos se dispõem a superá-los.

Seis meses praticamente se passaram do governo de Dilma Rousseff e tudo continua na mesma: estradas, portos, ferrovias e aeroportos precários, taxas de juros elevadíssimas, falta de mão de obra qualificada, carga tributária pesada e injusta e baixos investimentos públicos.

É esse Brasil do atraso que pode travar a continuidade do desenvolvimento a taxas acima de 4% ao ano e manter latente o dragão da inflação.

"O país está estrangulado. Isso é termômetro da falta de uma agenda clara do governo, que está demonstrando falta de capacidade para formular e implantar políticas públicas para resolver os gargalos", diz o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani.

Para ele, a recente decisão de privatizar os maiores aeroportos brasileiros é um sintoma da falta de projeto de desenvolvimento consistente, pois a então candidata Dilma havia garantido, durante a campanha, que isso não aconteceria. A deficiência do setor, combinada à escassez de recursos públicos, obrigou a presidente a tomar um choque de realidade.
Ainda que a mudança de posição tenha ocorrido tarde, seria um avanço, não fosse ela um fato isolado em um quadro de extrema ineficiência.

Nas poucas vezes em que o governo sinalizou que agirá no sentido de pôr o país nos trilhos da modernidade, tudo não passou de promessas.
A mais recente delas tem como alvo o estrangulado setor portuário do país.
Segundo o Palácio do Planalto, para incrementar o comércio exterior e reduzir os custos operacionais, a construção e a gestão de 45 portos serão entregues à iniciativa privada.

"Infelizmente, precisamos muito mais. Além da pequena capacidade para receber embarcações, os portos se ressentem da falta de silos para armazenagem de mercadorias. Perde-se muito tempo no carregamento e na descarga por falta de investimentos", afirma o presidente da seção de Transporte de Cargas da Confederação Nacional de Transporte (CNT), Flávio Benatti.

É por essa razão que o economista Fábio Giabiangi, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), não esconde seu ceticismo.

"O estado de graça acabou no fim do ano passado. Os problemas que estão aparecendo — e assustando — deverão persistir", avisa.

Qualificação

Para um país que é apontado, em todas as pesquisas, como uma das cinco maiores potências econômicas do mundo nas próximas duas décadas, o tempo é vital.

Na avaliação de Giambiagi, a situação está tão crítica que o descaso do passado, de administrações que não se preocuparam com a melhora da educação, faz agora o Brasil se deparar com um apagão da mão de obra — a falta de profissionais mais habilitados e capazes para executar as funções exigidas pelas empresas pressionadas por maior produtividade.

Para o economista, esse problema ficará mais nítido a partir de 2013, com a consolidação da situação de pleno emprego, configurada por uma taxa de desocupação próxima de 5% (hoje está em 6,4%).

Nesse momento, a ausência de trabalhadores qualificados voltará a pressionar a inflação, pois os salários tenderão a subir além do desejável e os custos arcados pelas empresas serão repassados aos consumidores.

O resultado disso poderá ser uma nova rodada de aumento dos juros pelo Banco Central e nova trava no crescimento. A previsão do mercado em geral é de que o país avance a taxas de 4% em 2011 e 2012.

Efeito cruel

O apagão da mão de obra deve causar, de imediato, um efeito cruel. A grande mobilidade social dos últimos anos, que alçou os mais pobres às classes C e D, tenderá a caminhar a passos mais lentos.

Os menos escolarizados terão dificuldade para se colocarem no mercado por causa da sofisticação do processo produtivo e das exigências dos empregadores, avalia o demógrafo Haroldo Torres, da Consultoria Plano CDE.

"Não se recupera a ausência de anos de escola da noite para o dia", acrescenta a antropóloga Luciana Aguiar.

"O fato é que o governo deveria controlar os gastos correntes para sobrar dinheiro e aumentar o investimento público. Em vez de comprar clipes, deveria construir estradas"

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco WestLB

ANA D"ANGELO Correio Braziliense

Endividamento do brasileiro é record/Juro já responde por mais da metade da dívida

O endividamento do brasileiro atingiu nível recorde.
A dívida total das famílias no cartão de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, crédito para compra de veículos e imóveis, incluindo recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), corresponde a 40% da massa anual de rendimentos do trabalho e dos benefícios pagos pela Previdência Social no País, aponta um estudo da LCA Consultores.

Se, do dia para noite, os bancos e as financeiras decidissem cobrar a dívida total das pessoas físicas, isto é, juros e o empréstimo principal, que chegou a R$ 653 bilhões em abril, cada brasileiro teria de entregar o equivalente a 4,8 meses de rendimento para zerar as pendências.

Os cálculos levam em conta a estimativa da massa de rendimentos nacional, não apenas nas seis regiões metropolitanas.

Em dezembro de 2009, a dívida das famílias estava em R$ 485 bilhões, subiu para R$ 524 bilhões em abril do ano passado e, em abril deste ano atingiu R$ 653 bilhões.

Apesar dos ganhos de renda registrados nesse período, as dívidas abocanharam uma parcela cada vez maior dos rendimentos da população.

Quase um ano e meio atrás, a dívida equivalia a 35% da renda anual ou 4,2 meses de rendimento. Em abril deste ano, subiu para 40% da renda ou 4,8 meses de rendimento.

'Houve uma forte aceleração do endividamento', afirma o economista Wermeson França, responsável pelo estudo. Ele observa que uma conjugação favorável de fatores levou à disparada do endividamento do consumidor.

O pano de fundo foi o crescimento econômico registrado no ano passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5%. Além disso, bancos e financeiras abriram as torneiras do crédito, com juros menores e prazos a perder de vista.

Dados de outro estudo intitulado 'Radiografia do Endividamento das Famílias nas Capitais Brasileiras', da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), confirmam o avanço do endividamento do consumidor.

De janeiro a maio deste ano, 64%, em média, das famílias que vivem nas 27 capitais do País tinham dívidas, ante 61% em igual período de 2010. O valor médio da dívida aumentou quase 18%, de R$ 1.298 mensais, entre janeiro e maio do ano passado, para R$ 1.527 mensais em igual período deste ano.

Depois da explosão do consumo no ano passado, Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio-SP, diz que as medidas de aperto no crédito editadas pelo do Banco Central no fim de 2010, a elevação dos juros e a redução dos prazos dos financiamentos tiveram grande influência sobre o aumento da dívidas das famílias neste início de ano.

'As vendas do comércio a partir de março apontam para uma forte desaceleração do consumo', afirma o economista, justificando que a dívida vem crescendo nos últimos meses por causa dos juros.


Cresceu neste ano a parcela dos juros no total da dívida dos brasileiros.

Em abril de 2010, a fatia dos juros correspondia a 56% de uma dívida total de R$ 524 bilhões. Em abril deste ano, o último dado disponível no Banco Central (BC), os juros equivaliam a 60% de uma dívida de R$ 653 bilhões, aponta estudo da LCA Consultores.

Com as medidas macroprudenciais do BC no fim de 2010 e a alta dos juros básicos iniciada em janeiro, a dívida total aumentou puxada neste ano pelos encargos financeiros', diz Wermeson França, economista da LCA, responsável pelo estudo.

Na sua avaliação, o avanço da parcela dos juros em detrimento do valor principal emprestado mostra uma piora na qualidade da dívida. Isto é, o brasileiro está se endividando mais, não necessariamente porque está indo às compras, mas por causa dos encargos financeiros cobrados nos empréstimos.

Cheque especial.
Outra informação, segundo o economista da LCA, que confirma que o aumento do endividamento do consumidor está sendo impulsionado pelos juros, aparece nas estatísticas do BC.

As duas únicas linhas de crédito que registraram crescimento na média diária de concessões entre dezembro de 2010 e abril deste ano foram o cheque especial e o cartão de crédito, as linhas de financiamento que têm os juros mais elevados e que normalmente são usadas de forma emergencial, isto é, para pagar outras dívidas.

Entre dezembro de 2010 e abril deste ano, a média diária real de concessões no cheque especial aumentou 6,2% e, no cartão de crédito, o acréscimo foi de 17%.

Já no caso do crédito pessoal, houve um recuo de 3,7% nas concessões nesse período, e nos veículos e aquisição de outros bens, a retração foi ainda maior, de 10,6% e de 11%, respectivamente.

Altamiro Carvalho, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), relata que os consumidores estão fazendo novos financiamentos para quitar dívidas antigas.

Tanto é que, no ano até abril, os dados de vendas da Fecomércio-SP mostram que o faturamento cresceu apenas 0,73%, sustentado pelos supermercados - cujas vendas praticamente não são influenciadas pelo crédito e que aumentaram 3,02% no período.

Nos demais segmentos, como eletrônicos, móveis e veículos, que são movidos a financiamentos, houve queda.

Risco.
O aumento do endividamento, com maior peso dos juros, pode levar a uma piora da inadimplência neste ano. 'Não vai ser nada explosivo, mas a inadimplência vai mudar de patamar', alerta França, da LCA.

Em 2010, a inadimplência do consumidor encerrou o ano em 5,7% e em abril, último dado do BC, tinha subido para 6,1%. Até dezembro, deve atingir 7,2%, prevê o economista. Ele pondera que o resultado deste ano deve ficar abaixo do de 2009, o ano do rescaldo da crise financeira, quando o calote chegou a 7,7%.

França observa, por exemplo, que apesar de o dado global do BC de abril mostrar que a inadimplência do consumidor com prestações vencidas acima de 90 dias continuar bem comportada, os índices de calote entre 15 e 90 dias de veículos e crédito pessoal superam as taxas acima de 90 dias.
'Esse é um sinal de que a inadimplência está piorando.


Estadão

junho 26, 2011

DESONESTIDADE É CULTURA.


Sempre se tem cuidado com generalizações, para não atingir os que não se enquadram nelas. Às vezes o sujeito odeia indiscriminadamente toda uma categoria, mas, ao falar nela e, principalmente, ao escrever, abre lugar para as exceções, os “não-são-todos” e ressalvas hipócritas sortidas.

Outros recorrem a gracinhas, como na frase do antigamente famoso escritor Pitigrilli, segundo a qual “as únicas mulheres sérias são minha mãe e a mãe do leitor”.
No caso presente, decidi que as generalizações feitas hoje excluem todos os leitores, a não ser, evidentemente, os que desejem incluir-se – longe de mim contribuir para aumentar nossa tão falada legião de excluídos.

Antigamente, era muito comum ler ensaios e artigos escritos por brasileiros em que nós éramos tratados na terceira pessoa:
o brasileiro é assim ou assado, gosta disso e não gosta daquilo.
Em relação a maus hábitos então, a terceira pessoa era a única empregada.
O autor do artigo escrevia como se ele mesmo não fizesse parte do povo cuja conduta lamentava.

Até mesmo nas conversas de botequim, durante as habituais análises da conjuntura nacional, o comum era (ainda é um pouco, acho que o boteco é mais conservador que a academia) o brasileiro ser descrito como uma espécie de ser à parte, um fenômeno do qual éramos apenas espectadores ou vítimas.
Eu não.

Talvez, há muito tempo, eu tenha escrito dessa forma, mas devo ter logo compreendido sua falsidade e passei a me ver como parte da realidade criticada. Individualmente, posso não fazer muitas coisas que outros fazem, mas não serei arrogante ou pretensioso, vendo os brasileiros como “eles”.
Não são “eles”, somos nós.

Creio que, feita a exceção dos leitores e esclarecido que estou falando em nós e não em inexistentes “eles”, posso expor a opinião de que fica cada vez mais difícil não reconhecer, vamos e venhamos, que somos um povo desonesto.
Não conheço as estatísticas de países comparáveis ao nosso e, além disso, nossas estatísticas são muito pouco dignas de confiança.

Mas não estou preparando uma tese de mestrado sobre o problema e não tenho obrigação metodológica nenhuma, a não ser a de não falsear intencionalmente os fatos a que aludo e que vem das informações e impressões a que praticamente todos nós estamos expostos.

Claro, choverão explicações para a desonestidade que vemos, principalmente nos tempos que atravessamos, em que a impressão que se tem é de que ninguém é mais culpado ou responsável por nada.
Há sempre fatores exógenos que determinaram uma ação desonesta ou delituosa.
E, de fato, se é assim, não se pode fazer nada quanto à má conduta, a não ser dedicar todo o tempo a combater suas “causas”.

Essas causas são todas discutíveis e mais ainda o determinismo de quem as invoca, que praticamente exclui a responsabilidade individual.
E, causa ou não causa, não se pode deixar de observar como, além de desonestos, ficamos cínicos e apáticos. Contanto que algo não nos atinja diretamente, pior para quem foi atingido.

Ninguém se espanta ou discute, quando se fala que determinado político é ladrão.
Já nos acostumamos, faz parte de nossa realidade, não tem jeito.
Alguns desses ladrões são até simpáticos e tratados de uma forma que não vemos como cúmplice, mas como, talvez, brasileiramente afetuosa.
Votamos nele e perdoamos alegremente seus pecados, pois, afinal, ele rouba, mas tem suas qualidades.

E quem não rouba?
Por que todo mundo já se acostumou a que, depois de uma carreira política de uns dez anos, todos estão mais gordinhos e com o patrimônio às vezes consideravelmente ampliado?
Como é que isso acontece rotineiramente com prefeitos, vereadores, deputados, senadores, governadores, ministros e quem mais ocupe cargo público?

Os políticos, já dissemos eu e outros, não são marcianos, não vieram de outra galáxia.
São como nós, têm a mesma história comum, vieram, enfim, do mesmo lugar que os outros brasileiros.

Por conseguinte, somos nós.
Assim como o policial safado que toma dinheiro para não multar – safado ele que toma, safados nós, que damos.
Assim como o parlamentar que, ao empossar-se, cobre-se de privilégios nababescos, sem comparação a país algum.

Em todos os órgãos públicos, ao que parece aos olhos já entorpecidos dos que leem ou assistem às notícias, se desencavam, todo dia, escândalos de corrupção, prevaricação, desvio de verbas, estelionato, tráfico de influência, negligência criminosa e o que mais se possa imaginar de trambique ou falcatrua.

E em seguida assistimos à ridícula, com perdão da má palavra, microprisão até de “suspeitos” confessos ou flagrados.
A esse ritual da microprisão (ou nanoprisão, talvez, considerando a duração de algumas delas) segue-se o ritual de soltura, até mesmo de “suspeitos” confessos ou flagrados.
E que fim levam esses inquéritos e processos ninguém sabe, até porque tanto abundam que sufocam a memória e desafiam a enumeração.

Manda a experiência achar que não levam fim nenhum, fica tudo por isso mesmo, porque faz parte do padrão com que nos domesticaram (taí, povo domesticado, gostei, somos também um povo muito bem domesticado) saber que poderoso nenhum vai em cana.

E é claro que, por mais que negue isso com lindas manifestações de intenção e garantias de sigilo (como se aqui, de contas bancárias de caseiros a declarações de imposto de renda, algo do interesse de quem pode ficasse mesmo sigiloso), essa ideia de esconder os preços das obras da Copa tem toda a pinta de que é mais uma armação para meter a mão em mais dinheiro, com mais tranquilidade.

Ou seja, é para roubar mesmo e não há o que fazer, tanto assim que não fazemos.
Acho que é uma questão cultural, nós somos desse jeito mesmo, ladravazes por formação e tradição.

João Ubaldo Ribeiro/Estadão